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domingo, janeiro 28, 2024

[RESENHA] "'Piranha Teeth': Quando o zumbi de Syd Barrett visitou a hipermodernidade", por Ciberpajé

Piranha Teeth: Quando o zumbi de Syd Barrett visitou a hipermodernidade


Resenha escrita por Ciberpajé* em 28/01/2024.

 

Fredé CF é profícuo, tem criado música com uma urgência que denota toda a sua pulsão criativa diante das indignações de nossa era, e dos seus êxtases e dores como indivíduo, como estrela cósmica brilhando intensamente antes de se apagar. A essência de sua música é a poesia pungente, visceral e também densa. A poesia que filosofa é a matéria primal, o barro ancestral com o qual ele molda esse novo e impactante EP “Piranha Teeth”. 

São 7 canções engendradas em cerca de 20 minutos, onde a sua verve de cancioneiro solitário, criando música estruturada em violão e voz e em experimentos sonoros digitais, galga mais um patamar. A sonoridade ímpar de Fredé CF não enquadra-se em rótulos, talvez o gênero mais próximo que poderíamos situar sua música seja a psicodelia, mas ainda é algo muito restritivo para enquadrar sua unicidade. Obviamente ecos de suas influências aparecem, como é natural, mas não eclipsam sua originalidade. Como na sensacional faixa Darkways (Fantasmagorias), que parece ter sido gravada por um inspirado zumbi de Syd Barrett levantado de sua tumba depois da queda do cometa! 

Acesse o EP "Piranha Teeth" de Fredé CF pelo link: https://fredecf.bandcamp.com/ 

As faixas revezam a língua, ora em português, ora em inglês, algumas incluem trechos nas duas línguas e, apesar de eu preferir o português, Fredé trafega belamente pelas duas expressões linguísticas, conseguindo alcançar força poética em ambas. A faixa de Abertura "To The Stars (my love) to the seas", apesar do título em inglês, é um libelo lírico sobre a vida no agora, recitada em um portguês que fica ecoando em nossa alma. Já Hacker Possession (Bleeding Nightmare High-Tech) é um rock que prega na mente feito chiclete no sapato, o mais próximo de uma canção pop que Fredé CF já chegou, a segunda parte em português que fala da transmutação do cão em lobo lembrou-me uma das máximas de meu ideário de Ciberpajé e tocou-me fundo! 

Leviathan (Bon vivant) é um poema recitado com a atmosfera de um dedilhado e ecos eletrônicos profundos, uma aura melancólica sobre encontros e desencontros. Em pouco mais de um minuto e 20 segundos a faixa Das Kabinett von Doktor Fritz (Art Hospital) resgata sonoridades vistas em faixas de outros trabalhos. Com uma batida eletrônica e um ritmo frenético ela é como uma intro para a Barrettiana Dark Ways, da qual já falei e vem na sequência. Então temos No Mundo dos Ossos, a mais frediana de todas, com um riff de violão e um ritmo de voz que nos remete às faixas do incrível álbum de estreia MekHanTropia. 

O EP fecha com a emblemática Morto (Ode to sad people), a mais longa do disco e com uma crítica ácida à hipercompetitividade na era das redes sociais. A capa é a cereja do bolo, ácida e estranha, belamente anticomercial.Não por acaso Fredé CF já foi finalista de premiações nacionais de música, a singularidade, visceralidade e autoralidade de suas faixas é algo incomum nessa era do copy paste. Viva Fredé CF!

Acesse o EP "Piranha Teeth" de Fredé CF clicando no link: https://fredecf.bandcamp.com/ 


*O Ciberpajé (a.k.a. Prof. Dr. Edgar Silveira Franco) é Ph.D. in Arts & Transmedia Artist - FAV/UFG (Federal University of Goiás) - Brazil. Acesse o seu blog: http://ciberpaje.blogspot.com.br/