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segunda-feira, fevereiro 08, 2021

[IMPRESSÕES] Depoimentos e reflexões sobre o curta “Carta a Valdez” de Fredé CF


Leia abaixo os depoimentos de Adaor Oliveira, Larissa Dias e Roberto Franco sobre a obra “Carta a Valdez” (2020/2021), curta-metragem poético-filosófico onírico, experimental, transmutacional e anti-mekHanTrópico de Fredé CF:

“Uma obra cheia de nuances, de signos, de semióticas, bem ao estilo Charles Sanders Peirce. É um retrato de como foi nosso ano de 2020 e, pelo jeito, 2021 não será muito diferente. Foi um ano em que vivemos na Matrix, em Pandora, na caverna de Platão. A questão psicológica que a obra traz, traduz muito o que houve com as mentes nesse momento recente, algumas sentindo o desconforto de ter que viver em quarentena, outras se deixando seduzir por um líder fascista, que desdenha da vida e tudo que não condiz com sua mente doentia e psicótica. George Orwell mostra isso muito em 1984, como aparece na referência a esse livro. A sociedade autoritária e repressora que Orwell traz, é exatamente a que vivenciamos com esse (des)governo, que chafurda o Brasil em lama. É o Big Brother constante, o olho que tudo vê através das redes sociais, espaço propício para se espalhar notícias falsas, que sustentam o nepotismo que nos governa com seu gabinete do ódio. E a vesícula com suas pedras, algo que traz uma dor imensurável (digo por experiência própria), mostra a dor que a população tem que passar, mas que é a dor da democracia, pois é o voto popular que elegeu o tirano do Palácio do Planalto. Isso mostra o quão necessária é uma educação libertadora, que nos ensine, de fato, a pensar e não apenas a obedecer, bem longe do vigiar e do punir, como bem ilustrou Foucault. Às vezes, dá a impressão que vivemos no universo surreal de Salvador Dalí, também ali presente. Essa é a nossa salvação: a arte. Talvez esse surreal seja mais real que esse mundo de irrealidades sob o qual estamos, um mundo onde a ciência não vale mais nada, onde todos se acham especialistas em assuntos que nunca estudaram. Enfim, que a voz feminina e a voz masculina, como na narração do filme, possam estar sempre juntas na (re)construção da nossa liberdade, andando juntas passo a passo, para empurrar esses bebês de Rosemary de volta aos úteros que os pariram.” (Adaor Oliveira - filósofo e professor/ Campinas-SP) 


 “Amei essa narração feminina, deu uma suavidade ao tema de uma forma incrível, linda voz! Que imagens! Fiquei impressionada que foi tudo feito com o celular! A cena da sombra no espelho d'água, nossas sombras que aparecem; a pedra na vesícula, realmente algo que incomoda, como esse isolamento que incomoda, adoece, nos faz perder a noção de espaço e tempo e precisar urgentemente da arte para nos salvar! E eu pensando nisso e assistindo e daí, aparece um puta Salvador Dalí! Olha aí o salvador! O tempo que acaba virando amigo, inimigo e já não sabemos mais de nada quando um dos nossos limites parece ser retirado. Muito criativo esse curta e o violão sempre ali, mostrando que a música nos leva a outras esferas. Deve ter dado um belo trabalho editar tudo isso! Parabéns, eu adorei!” (Larissa Dias – psicoterapeuta / São Paulo - SP) 


“Acabei de assistir ao curta. Lendário! Maravilhoso! Gostei muito da cadencia narrativa, muito bem amarrado em texto, vídeo e áudio. A escalada da psicodelia e do pensamento caótico e incessante. Muito boa a progressão do primeiro ato de serenidade e perda da realidade até o grande final tenso - que pra mim é toda a segunda metade -, do fervilhar de pensamentos e perda do fio da realidade. Me causou profunda sensação de imersão nos pensamentos. Me diverti! Angustiante e estimulante o retrato audiovisual. Vi na TV e com fone de ouvido, tem hora que dá uma pressão real nos sentidos. A tranquilidade veio como alivio só nos créditos finais, porque na última pausa de locução da voz feminina eu ainda estava naquela de não saber se vinha mais pancada ou não (risos). Gostei da construção, experiência bem sensorial. No instante em que a cabeça vira o abajur é quando começa a descida da montanha-russa do pesadelo. Dali em diante é imersão total. Fala muito além do texto.” (Roberto Franco - linguista e culinarista/ Santos-SP)


"CARTA A VALDEZ" (2020/2021) - Um filme de Fredé CF
Sinopse:
“Quem olha pra fora sonha, quem olha pra dentro desperta”. A frase de CG Jung ecoa no imaginário de Valdez, transcendendo sua realidade ordinária à níveis oníricos de alucinação mekHanTrópica. Suas experiências conscientes e inconscientes são mediadas pelo sistema que introduz imagens e sons em seu imaginário. Conectadas à rede, as identidades estão cada vez mais padronizadas. A institucionalização de uma produtividade e consumo de forma quantificada em prol do mercado, 24 (horas por dia) / 7 (dias por semana), geram angústias. Aqueles que não se enquadram nas normas se deslocam à estranheza, que já não vem apenas de fora, mas sobretudo, de dentro por meio de aspectos psicoemocionais. Seria possível escapar dessa cooptação e se reconectar à Gaia, ao nosso habitat? O surgimento da resistência anti-mekHanTrópica é apresentado em diálogos poéticos congruentes entre Carmen, Valdez e redes neurais atentando contra o sistema que rege MekHanTropia. Como em um sonho hibridizado entre os seres maquínicos, humanos e não-humanos, as sombras (sociais e pessoais) trazem à tona uma jornada fantástica de autoconhecimento por fragmentos dimensionais e espíritos ancestrais que acompanham Valdez, orquestrando fluxos de sonhos elétricos digitais e devaneios caóticos existenciais por meio da tecnologia.
Deixamos de sonhar? Nada mais desafiador do que um imprevisto que nos faz repensar toda a existência. Diante desse tipo de situação, precisamos de força pra nos reinventarmos, de dentro pra fora. Como conciliar os extremos de nossa natureza? Amor x Ódio; Alegria x Tristeza; Sonho x Vigília; Loucura x Lucidez? Qual a natureza da realidade? Qual o peso das ideias, das emoções, das sensações, dos sonhos? Como desvendar os mistérios que nos cercam e que dão gás à arte e à ciência? Temos aqui mais dúvidas que certezas. E afinal, o sonho é também fundamento do sonhador ou o sonhador é fundamento do sonho? Ao sonhar, nos libertamos e esvaziamos a lixeira da nossa existência ou ficamos ainda mais presos ao que, de forma narcísica, achamos que somos? Ficha técnica: Título: “Carta a Valdez” Ano: 2020/2021 Curta-metragem poético-filosófico onírico, experimental, transmutacional e anti-mekHanTrópico. Direção, produção, roteiro, fotografia, som e edição: Fredé CF (a.k.a. Frederico Carvalho Felipe) Narração e apoio: Leticia Guelfi Orientação: profa. Dra. Rosa Berardo (PPGACV - FAV/UFG) Duração: 09’51’’ Obra toda produzida por Fredé CF pelo smartphone no segundo semestre de 2020 em Goiânia, durante a pandemia de COVID-19 e lançada na virada para 2021. F.Oak Criações Artísticas
Goiânia – Goiás - Brasil
Diários de quarentena de Valdez: “‘Ninguém sabe o que o calado quer’...ouvi essa frase no Vão de Almas, em território Calunga, por volta de 2011, bem antes da pandemia. O contexto era outro. Era necessário expressar o que havia em nossa imaginação. Hoje não há mais isso. Não aqui em MekHanTropia. Eles já sabem de tudo previamente e moldam seus produtos com base nesses bancos de dados. Dados extraídos de nossos likes, de nossa alma, de nossos sonhos que voluntariamente entregamos. Talvez ainda não o povo Calunga. Eles não pararam no tempo. Eles pararam ‘o’ tempo! O tempo instituído. O tempo que escraviza. Resistência de fato. Reconexão. Transmutação. Entender que cada um tem seu tempo e que as nuvens estão carregadas de chuvas de dados, sem vida. Ensinamos as máquinas a sonhar e esquecemos como sonha. Terceirizamos nossos sonhos a redes neurais convolucionais. Sinapses elétricas. Eletrônicas. Será que as máquinas serão bondosas conosco ou será que, como o Monstro de Frankenstein, se voltarão contra o criador pela falta de amor e excesso de uma visão sistêmica mercadológica em prol do lucro e produtividade sobre todas as coisas?
Enquanto isso, eu, Francisco Valdez, sonho na resistência e tento organizar meus pensamentos codificando-os audiovisualmente para tentar me conhecer melhor, em essência.”
F.Oak 2020/2021.

quarta-feira, fevereiro 03, 2021

Penas de Morte



A pena 
Que escreve e traduz 
À luz de velas 
Apenas 
A leveza 
Da piedade 
De quem lamenta seus pesares 
Aquele que pena ao condenar 
A tormenta 
Sob a pena 
De não poder ter 
A liberdade de errar 
Aprisiona e se atormenta 
Sem saber se vale 
Mesmo a pena 
Insistir apenas 
Na penalidade de não voar 
Quem sabe hoje 
A maior pena pese não na folha 
Tinta ou mão 
Ou na alma 
Que teima em penar 
Talvez no escuro 
A duras penas da ilusão
Da tela insossa, pequena 
Que não desgasta 
Mas com desgosto 
Aliena e sangra mais 
Meu coração 
Deixa de pulsar 
Não com pena 
Mais compaixão
(A)pesar.

(Texto e imagem: Fredé CF - 02.02.21)