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quarta-feira, dezembro 07, 2022

(RESENHA) DEVANEIOS EM MEIO AO “PESADELO”. IMPRESSÕES SOBRE O ÁLBUM DE FREDÉ CF – POR RAQUEL ALVES DE FREITAS NUNES (JORNALISTA)

 

IMPRESSÕES SOBRE A OBRA "PESADELO" (VOL. 1 - “SUCCUBUS”)

Por Raquel Alves de Freitas Nunes*

(resenha feita no dia 20/10/2022, Dia do Poeta)

Clique aqui para ouvir ao EP "Succubus"
 

Foi desafiador fazer essa resenha, ainda mais porque eu não tinha conhecimento sobre o assunto. Foi muito interessante aprofundar na pesquisa e ampliar o meu conhecimento quanto à espiritualidade. Amo esses assuntos. Quanto ao álbum, modestamente falando e respeitando todo o processo de criação das obras anteriores, esse para mim foi o mais surpreendente. Ainda estou impressionada com a inserção da 9° sinfonia de Beethoven na quarta faixa do primeiro EP. Algo inesperado que me surpreendeu demais.  

Então, vamos à resenha sobre o álbum “PESADELO”, dividido em dois EPs: “SUCCUBUS” e “INCUBUS”.

PARTE 1 - SUCCUBUS

Clique aqui para ouvir ao EP "Succubus" 
Ao tentar deitar para descansar não há descanso. Seu sono é interrompido. Você é importunado. Energeticamente sugado. Não tem para onde correr. Não é possível se defender.  Essa criatura feminina demoníaca, SUCCUBUS, seduz e se manifesta com atitude vampiresca, eu diria. Ladra da sua noite. Rouba sua energia. Se aproveita com deleite da sua vulnerabilidade. Tentação em forma de diabo vinda das profundezas mais obscuras das crenças mitológicas. Em um paralelo com a performance de SUCCUBUS, nos é aqui apresentado a forma de expor nossos anseios, juntamente com a iminência do que idealizamos e do que nos assombra. A necessidade de expurgar nossas aflições, nossos segredos, nossos questionamentos. A expressão de nossas emoções por meio de variantes psíquicas perturbadoras que invadem nossos sonhos. A compulsão digital que não nos permite (des)conectar, uma vez que os algoritmos hoje praticamente fazem parte de nossa composição neural. Nos sentimos sugados e fracos energeticamente como se pudéssemos nos comparar com as sensações oriundas da presença de SUCCUBUS, como se vivêssemos condicionados a essa situação de uma verdadeira rendição moral, pessoal e social diante do sistema caótico em que vivemos.

Fredé CF apresenta neste EP uma sonoridade multifacetada e arranjos transcendentais. A beleza sonora que nos leva da música clássica à batida eletrônica. SUCCUBUS apresenta nossos devaneios em meio ao “PESADELO” que se desenvolve aqui de maneira ÍMPAR, literalmente, e ele nos propõe evidenciar as respostas através dos versos musicais. O despertar de nós mesmos. É onde encontraremos respostas para o que tanto buscamos. O que era para ser um sonho virou um “PESADELO”. E assim, seguimos devorados pelas mazelas que atingem a coletividade. O antagonismo social sem precedentes que não está em ressonância com o que sempre sonhamos.  Com o intuito de nos desvencilhar dessas reproduções tão realistas dos nossos pensamentos, aliados a uma situação apavorante e agoniante que vivemos, seguimos então com um pequeno spoiler de cada faixa, onde será possível analisarmos como tudo isso se desenvolve através de um olhar latente, presente na natureza humana.

Me encantei pelo questionamento sombrio e paradoxal da primeira, a angústia surrealista da terceira, a leitura intacta da mente provocada pela quinta faixa, o anseio vital da sétima, a comemoração desordenada da nona, a batida mística e eletrônica presente na décima primeira. Sendo assim, iniciamos a primeira parte desse “PESADELO”. O que desejamos ao deitar? Queremos descansar. E ao descansar o que queremos? Queremos dormir. E ao dormir será que é possível sonhar? E ao sonhar, será que vamos acordar? E ao acordar, será que realmente vamos despertar? Diante desse desafio onírico, Fredé CF apresenta logo abaixo 6 motivos para você ultrapassar as barreiras do seu subconsciente e despertar para a sua transcendência vital. Vamos lá? 

Faixa 1 – O ESTRANHO MUNDO DE JURUPARI COM ZÉ DO CAIXÃO EM MEKHANTROPIA:  O despertar da consciência começa por aqui. Nesta primeira faixa, Fredé CF une por meio de uma sonoridade peculiar aos rituais indígenas o mito de Jurupari, que na mitologia indígena é conhecido como o demônio dos sonhos com um trecho presente no filme “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, de 1968, narrado pelo próprio cineasta José Mojica Marins. Um monólogo proposto por uma citação baseada em fundamentações existencialistas arrebatadoras, que desnudam as profundezas da essência humana. Uau!!

Faixa 3 – SWEET DARKNESS:  Alucinação poética! A letra desta faixa foi composta durante um momento de dor e introspecção vivenciado por Fredé CF em decorrência da contaminação pela Covid-19. A faixa toda em inglês tem como principal objetivo traduzir as dores, angústias e medos. Repressões sombrias. Esgotamento mental. Nomofobias. Apatia psíquica. Uma sequência melancólica, porém, elegantemente harmoniosa sobre a exposição de nossa vulnerabilidade e fragilidade emocional.

FAIXA 5 – TELA MENTAL PARTICULAR: As percepções cognitivas ocultas estão presente na terceira faixa do EP, que conta com a participação mais do que especial de Guilherme Tell, guitarrista da banda Cão Breu que brilhantemente dá o ar da sua graça na sonoridade dessa faixa que começa com um misto de instrumentos. Ouço acordes de um violão, surgem barulhos que se assemelham ao barulho do vento. Me recolho profundamente diante da diversidade dos meus pensamentos.  “Tela Mental Particular” vem de encontro com o instigante mistério do desvendar da consciência. O cérebro humano como ciência a ser explorada. Tão complexo que não permite ser transplantado. Tampouco habitado por outrem. Apenas explorado pelo que sigilosamente permeia a mente.

FAIXA 7- A VERSÃO MAIS JOVEM QUE SEREI: As expectativas oníricas e vitais são mencionadas aqui. Eis que chegamos na minha faixa preferida. A necessidade de descobrir e redescobrir o que a vida tem a nos oferecer juntamente com a transmutação diária de todos nós. Abrir as portas para o desconhecido. A ânsia por viver! Me impressionei com a alternância sonora de ritmos aqui proposta pela genialidade musical de Fredé CF.  Os acordes de um violão ritmado que vão de encontro com a 9° sinfonia de Beethoven definitivamente me deixou boquiaberta com essa bela surpresa com status de Grand Finale!

Faixa 9 - UM BRINDE AO CAOS: A mistura de elementos musicais presentes no início da faixa com sintetizadores, violão e outras mixagens me deixaram hipnotizadas. A faixa conta com a participação do DJ , arquiteto, pesquisador, designer e musicista Maurício Mota, que por meio de suas intervenções sonoras, juntamente com Fredé CF, conseguiram elaborar um sensível questionário de perguntas que reúnem elementos da natureza, sentimentos, emoções, um misto de situações que passamos o tempo todo incessantemente procurando por essas  respostas em meio às nossas indagações cotidianas. A morte. A vida. As relações. As sensações. As conexões. A loucura desordenada de tudo que observamos, vivemos e sentimos. Um brinde ao caos e a essa maravilha musical!!

FAIXA 11 - ELETROCHOCK! (MÚSICA INCIDENTAL: KALI GAYATRI): A sua cura energética está aqui. Batidas eletrônicas, samplers, O mantra indiano aqui aparece com o propósito de romper o ego. Freneticamente ritmado, o mantra emana a energia cósmica que deverá sempre dar espaço ao novo. Que vibra a cada verso e ativa uma memória afetiva onde, com “Black Dog”, voltamos ao túnel do tempo com o Uivo pioneiro e delirante do Cão Breu que finaliza de forma apoteótica esse álbum.


IMPRESSÕES SOBRE A OBRA "PESADELO" (VOL. 2 - “INCUBUS”)

Por Raquel Alves de Freitas Nunes*

(resenha feita no dia 31/10/2022, Dia Nacional da Poesia)

Clique aqui para ouvir ao EP "Incubus"

Chegamos ao segundo ato desse pesadelo, não é mesmo? Cada um dos álbuns lançados por Fredé CF me traz alguma reflexão, me toca, me emociona de forma diferente através de cada linha, cada estrofe e cada verso, aliado à sua sensibilidade poética que é algo que me encanta. INCUBUS além de me proporcionar esse bombardeio de emoções, chega com tudo isso e um “plus” a mais. Ao fazer a resenha identifiquei coincidências impressionantes que se tornaram acrônimos numéricos, sonhos reais, enfim...uma impressionante mensagem do universo que não aconteceu com os outros oito álbuns anteriores. Algo surreal. Mágico. Falando em magia e coisas bonitas hoje é o dia da poesia e meu pensamento remete a um tempo distante, para ser mais específica, volto em maio de 2021, na poesia do café, escrita e publicada nas redes por Fredé CF bem próximo do lançamento do EP “Ecos Oníricos”. De todas, é a minha preferida.

Sem mais delongas, vamos à resenha?

 

PARTE 2 - INCUBUS

Clique aqui para ouvir ao EP "Incubus"
Quem nasceu para ser poeta nunca perde a poesia, não é mesmo? E nessa onda é que Fredé CF nos presenteia com INCUBUS, o segundo ato desse “Pesadelo”. INCUBUS é a vertente masculina de SUCCUBUS. Criatura demoníaca que seduz sexualmente as mulheres enquanto elas dormem. O álbum foi lançado no dia (06/09) em referência ao dia do sexo que faz jus a representatividade de INCUBUS. Repleto de emoções, expansão dos sentimentos, conectividades e expectativas com o que nos cerca aliado a um violão acústico sem igual que ressoa pelas faixas, em referência ao dia de hoje e como presente pelo dia da poesia, vamos resenhar esse álbum incrível.

A busca por respostas para esses devaneios sombrios ou cheios de luz é o que iremos iniciar nessa resenha. O pesadelo foi tão grande que teve que ser dividido em dois episódios musicais, com o lançamento de duas obras com a finalidade de despertar a consciência e promover o autoconhecimento. Sendo assim, exponho o que achei mais relevante em cada poesia sonora deste EP:

Na faixa 2 temos o luto em prol do ativismo ambiental, na faixa 4 temos a elucidação dos sonhos, a dor emocional ocasionada pela faixa 6, às exigências impostas por nosso cotidiano tão presente na faixa 8, a elucidação poética trazida pela faixa 10 e o renascimento vital proporcionado pela faixa 12. O álbum é repleto de emoções do início ao fim. Detalhe que em INCUBUS as faixas são PARES, já em SUCCUBUS elas são ÍMPARES. O EP é muito voltado para a autopercepção e a elucidação de sentimentos. E é nessa vibe comemorativa a esse dia tão especial que Fredé CF nos convida a brindar essa data com 6 emocionantes doses de poesia logo abaixo:

FAIXA 2 – SANGUE DERRAMADO:  A tristeza poética começa aqui. Na faixa 2 desse álbum, Fredé CF homenageia de forma profunda e tocante dois grandes símbolos da luta pelo ativismo ambiental no Brasil: O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips, que foram brutalmente assassinados em junho deste ano. O sangue derramado aqui escorre no decorrer da faixa e ecoa de forma revoltante em meio ao descaso governamental que sucumbe a sua responsabilidade quanto a proteção às minorias e as causas ambientais. A canção indígena entoada por Bruno, vai ao encontro do silêncio do povo da floresta que ficaram órfãos e desprotegidos de sua grande luta em prol da proteção aos povos indígenas. Emoção literalmente à flor da pele.

FAIXA 4 – PISADEIRA: O eu lírico poético começa por aqui. O violão de Fredé CF inicia a faixa com acordes frenéticos que se desenvolve em quase toda a faixa e ao chegar ao seu final alternando para uma esplêndida sonoridade de um compasso mais lento. Em momento algum destoa do pesadelo real que se intensifica diante dos desejos, da esperança, das evidências, de tudo que é permitido diante do que se pode sonhar. Quando se acorda ao invés de realizar o sonho, temos um pesadelo, onde somos atraídos por toda força criativa e enigmática das frases: MORRI NESSA SEXTA-FEIRA/SERÁ QUE TRANQUEI BEM O PORTÃO? Indagações como essas adentram o nosso inconsciente e finaliza a canção acompanhado por um beat box muito bem executado por Fredé CF e assim, vamos tentando decifrar os mistérios desse eu-lírico arrebatador.

FAIXA 6 -NADANDO NO SAL COM SAPOS: A melancolia poética se manifesta aqui. A introdução dessa faixa traz para mim um cenário cósmico. É como se estivesse orbitando pelo espaço, pelas galáxias, por meio de satélites e planetas. E nessa viagem imaginária, ou melhor, interplanetária, Fredé CF busca respostas para seu desabafo tão agoniante. Com uma voz icônica que remete ao horror e ao terror, a narrativa musical se desenvolve como uma súplica mediante a vontade de se libertar de suas angústias, das suas dores e seus conflitos emocionais. A loucura digital cotidiana que tanto seduz e impressiona, também contribui para esse panorama tão conflitante. Desânimo. Fúria. Desesperança. “Nadando no Sal com Sapos” é o relato desesperado da dor emocional que sufoca, aprisiona e atormenta. 

FAIXA 8 - ESCRAVO DE AGRADO: A fúria poética se manifesta por aqui. Nesta faixa Fredé CF relata as exigências das nossas demandas de cada dia, seja elas no trabalho, no meio acadêmico ou em outros momentos da nossa vida onde temos que utilizar a palavra disposição para lidar com tantos compromissos. O violão ecoa em um mesmo ritmo, como se as cordas fizessem parte dessa rotina diária do agrado sem fim. A imposição de lutar e vencer em prol dos sonhos alheios. Ser comandado e obedecer aos comandos sem reclamar, independente de quaisquer circunstâncias, sejam elas psíquicas ou físicas. Esgotamento.  A busca por resultados que resulta na vaidade que irá inflar o ego de alguém. Pressão. A necessidade infinita de agradar independente de qual artifício será utilizado. O indivíduo como agente principal na máquina da produtividade. Do status. A ambição onde nunca se pode dizer não. A escravidão em tempos modernos. “Escravo de Agrado” é a expressão visceral em prol de um olhar mais humanizado para as exigências sociais.

FAIXA 10 – O ESTRANHO MUNDO DA POESIA (DIÁRIOS DE QUARENTENA): As descobertas poéticas começam aqui. E no dia da poesia o que temos aqui? Um relato que foge das alucinações poéticas, como forma de entendimento de todo o desenvolvimento artístico que envolve o estranho não, mas o expressivo, maravilhoso e encantador mundo das poesias de Fredé CF. Pareidolias à parte, os mistérios da poesia são desvendados aqui por meio do significado do ato poético como uma forma de ressignificar as emoções. Além disso, traz todo o contexto artístico que envolvem estas descrições através de situações que também podem sem surrealistas e trazem à tona, a elucidação desse mundo dos delírios poéticos. Entender melhor como é composto esse processo criativo, fez de “O estranho mundo da poesia” a minha preferida do álbum.

FAIXA 12 - DESPERTAR EM MEKHANTROPIA: O despertar poético começa aqui. O EP que começou tão triste após a tragédia relatada em “Sangue Derramado”, se encerra de maneira entusiasmada com o despertar para a esperança. A certeza de que querer viver é desfrutar de tudo que a vida puder nos proporcionar. Novas experiências é saber que a vida renasce a cada dia. “Despertar em MekHanTropia” é desabrochar para as possibilidades. É de dentro para fora. É a cura da alma, da mente e das dores. É o grito de superação mediante a intensidade fugaz de viver cada dia como se fosse o último.

 *Raquel Alves de Freitas Nunes é jornalista.