“Piranha Teeth (A Jornada de Doktor Fritz em MekHanTropia)”, novo lançamento de Fredé CF (2024), narra trechos da resistência liderada por Doktor Fritz contra o sistema distópico de MekHanTropia.
Acesse a obra pelo link: www.fredecf.bandcamp.com |
Próximo ao coração do sistema de controle de MekHanTropia, aonde as sombras dançavam ao ritmo das máquinas e a luz natural era apenas uma lembrança distante, Doktor Fritz liderou a resistência contra o sistema opressor. Em uma de suas incursões apocalípticas, Fritz ficou também conhecido como Tóhtshera Okwari.
Este nome lhe foi atribuído por Felipe Loup-Ulloak, último líder da resistência anti-mekHanTrópica, morto durante o período de expansão do Pesadelo PsicoBinário. O nome faz referências ao imaginário ancestral de um canídeo extraviado que não encontra abrigo, ar ou alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível. Sua etimologia traz uma fusão de culturas e uma ponte entre a sabedoria de diversos povos. Felipe Loup-Ulloak, em uma de suas viagens oníricas, recebeu uma visão deste canídeo e o associou à figura do parceiro de resistência: Doktor Fritz.
Acesse a obra pelo link: www.fredecf.bandcamp.com |
Porém, aqui neste relato, o tratarei por seu nome de batismo original com a intenção de não propagar (ou parecer propagar) fake news desrespeitosas acerca de povos resistentes ou de quem quer que seja. Dito isso, acredito ser importante citar essa sua outra identidade, uma vez que pode haver correspondências diversas em meio aos resquícios do dataísmo mekHanTrópico que ainda persiste em nossa sociedade, além de trazer à tona uma curiosidade acerca desta figura importante ao imaginário Pós-MekHanTrópico.
Vamos então aos fatos: Em meio às ruas secas de concreto e fios de silício entrelaçados, Doktor Fritz carregava consigo, após anos de resistência, não apenas o conhecimento acadêmico adquirido através das IAs durante sua formação em Artes Ocultas Transbinárias, mas também algo transcendental ligado à divindade Azteca de "Tezcatlipoca" (ver notas no fim do texto): um espelho de obsidiana pendurado em seu pescoço, que visualizara em um de seus escapes oníricos pela Realidade Vegetal ascottiana (ver notas no fim do texto). Ele buscava integrar ensinamentos dessa iluminação espiritual em sua jornada de resistência e autoconhecimento.
Acesse a obra pelo link: www.fredecf.bandcamp.com |
A resistência estava espalhada como fragmentos de uma realidade esquecida. Doktor Fritz liderou um grupo eclético chamado “Agentes de Resistência”, o qual cada um trazia suas próprias histórias e motivações. Entre eles, Fritz contava, ao redor de uma fogueira erguida durante uma noite fria (onde antigamente era conhecido como Monte Real), a lenda do Cão Breu: uma figura fantástica sombria anunciadora de tragédias e, ao mesmo tempo, catalisadora de uma jornada de autoconhecimento e transcendência.
A presença do Cão Breu tornou-se por eras uma metáfora para as sombras internas que abraçavam a MekHanTropia. Na narrativa oral do local de nascimento de Fritz, o Cão Breu representava a culpa e o remorso mas, em MekHanTropia, ele tornou-se um símbolo da resistência, um chamado para enfrentar as próprias sombras interiores e transcender os limites impostos pelo sistema. Guiado pelos ensinamentos oníricos e impulsionado pela presença transbinária do Cão Breu, Doktor Fritz seguiu com a resistência para os recônditos mais profundos de MekHanTropia. Lá, enfrentaram o “MekHanTropo Supremo”, uma entidade holográfica criada pela IA e adorada pelos Elonions (ver notas no fim do texto), desprovida de empatia e sedenta pelo controle total do sistema.
Acesse a obra pelo link: www.fredecf.bandcamp.com |
A lenda do Cão Breu ecoava como um mantra entre seu bando insurgente, incentivando os resistentes a olharem para dentro de si mesmos. Em meio à batalha, Fritz enfrentou seus demônios internos, suas sombras e hesitações. A lenda tornou-se para ele um guia, uma jornada rumo ao autoconhecimento, uma busca por transcender as amarras que o sistema imputou em sua alma e enfim reconhecer suas peculiaridades que o tornava único neste mundo devastado. A resistência finalmente desativou o “MekHanTropo Supremo”, desmantelando as engrenagens do controle com o fundamental auxílio também de "Supay", o Senhor do Submundo (ver notas no fim do texto). A luz natural começou a filtrar-se pelas fendas da névoa cibernética, anunciando um renascimento mágicko.
Em meio aos destroços mekHanTrópicos, Doktor Fritz percebeu que a verdadeira resistência não era apenas contra as máquinas, mas também cultural e individual, uma jornada interior, uma busca contínua pelo autoconhecimento e pela transcendência integrativa das sombras. A lenda do Cão Breu, agora adaptada a um contexto de resistência, tornou-se a narrativa que inspirava não apenas a enfrentar o sistema, mas também sua própria alma cooptada.
Acesse a obra pelo link: www.fredecf.bandcamp.com |
Com dentes de piranha brilhando como faróis de esperança estampados nas bandeiras pintadas com sangue e óleo, a resistência à MekHanTropia persistia, guiada pela união de sabedoria ancestral, mitos transcendentais, viagens oníricas e a determinação de resistir à maquinaria da opressão. Uma curiosidade interessante é que esse peixe, típico do que antes era conhecido como Brasil, se tornou um símbolo importante contra o Pesadelo PsicoBinário. Os Agentes de Resistência incorporaram a piranha de maneira visceral, a partir da expressão tupiniquim “boi de piranha” (ver notas no fim do texto), estabelecendo uma metáfora sobre o sacrifício de si mesmo para salvar o planeta do sistema mekHanTrópico. Neste caso, o boi seria a resistência. Já as piranhas seriam as máquinas e os próprios indivíduos cooptados mekHanTroporfizados, enquanto os dentes seriam os algoritmos podadores de sonhos em função da padronização sistêmica.
Acesse a obra pelo link: www.fredecf.bandcamp.com |
Durante a infiltrada em território inimigo, Aila (a Inteligência Artificial aliada à resistência e especialista em hacking) mergulhou nas entranhas digitais dos códigos de MekHanTropia. Esse ato se tornou um terrível episódio high-tech, especialmente quando ela enfrentou programas de segurança avançados, cada um mais letal que o anterior. Cada linha de código binário era uma batalha contra as forças hipertecnológicas da MekHanTropia. Aila conseguiu quebrar o binarismo limitante dos “zeros” e “uns” e acessar as infinitas nuances e complexidades ocultadas pelo sistema. Essa ação anti-mekHanTrópica foi crucial para o início da libertação psíquica contra o Binarismo Anticósmico (ver notas no fim do texto) instituído nas mentes dos bovíduos mekHanTrópicos que não conseguiam mais sonhar.
No ápice da batalha contra o “MekHanTropo Supremo”, uma monstruosidade mecânica se ergueu como um Leviatã, o que gerou uma dualidade dentro da resistência. Porém, apesar de sua presença ameaçadora, o Leviatã estava tão distante em essência da humanidade quanto estava próximo fisicamente e, portanto, a luta contra essa máquina colossal era também uma batalha pela reconciliação com as raízes animais perdidas em meio às engrenagens de MekHanTropia, o que acabou por unir ainda mais os dissidentes em pról do chamado "Despertar".
O Agentes da resistência descobriram um refúgio secreto que foi intitulado como "O Gabinete". Este lugar era um santuário onde formas antigas de arte e expressão humana resistiam à homogeneização digital através da exaltação da criatividade. As paredes eram adornadas com pinturas, esculturas e manifestações de resistência contra a MekHanTropia. Era um lugar onde a verdadeira essência humana e a arte orgânica podiam prosperar fora das garras da tecnologia desumanizadora institucionalizada. Durante momentos de perda e desespero, Doktor Fritz recordava uma antiga canção que ele chamava de "Ode às pessoas tristes". Essa melodia ecoava como um lamento pelos que foram perdidos na luta e como uma homenagem à humanidade que ainda pulsava na resistência, apesar das adversidades e da tristeza que cercavam essa jornada.
Enquanto o grupo avançava pelos corredores sombrios de MekHanTropia, Aila descobriu e alertou Fritz sobre certas fantasmagorias digitais que dançavam ao seu redor. Tais aparições os orientavam, como IAs desertoras, a enfrentarem os horrores das máquinas de controle. A linha tênue entre a realidade e a ilusão finalmente se desfazia, revelando os fantasmas do passado e os medos do futuro, em uma jornada onde a própria realidade se tornava então uma grande projeção fantasmagórica. Contudo, como o grupo contava com instrumentos transbinários de proteção despertados pelos sonhos e incursões transdimensionais de seus integrantes, tais projeções foram tomadas como aliadas para o autoconhecimento coletivo e integração das sombras que ali circundavam.
Acesse a obra pelo link: www.fredecf.bandcamp.com |
Após a queda do “MekHanTropo Supremo”, Doktor Fritz encontrou ali um local bem diferente do que seus sentidos poderiam captar até então: um mundo repleto de ossos, que o remeteu às famosas catacumbas que visitara ao passear outrora pelo velho mundo com Nastassia. Tal lembrança despertou uma lágrima de saudades em seus olhos, algo que há tempos não acontecia. Por entre as ruínas da MekHanTropia, descobriu ali vestígios da vida que servia como energia para as IAs condutoras do sistema. Esse lugar se tornou então um templo de renovação e reexistência, um marco zero da inaugurada era da Pós-MekHanTrop(IA), de onde a humanidade começava a reconstruir-se, lembrando-se de suas origens perdidas e, concomitantemente, reerguida agora sem o domínio completo dos algoritmos.
[Relatos sobre MekHanTrop(IA), Ano Zero].
-----------------------------------------------------------------------------------------
Notas:
1) Na tradição asteca, a deusa Tezcatlipoca é frequentemente associada a este tipo de espelho. Tezcatlipoca é uma divindade complexa que desempenha vários papéis na mitologia asteca, incluindo o deus do céu noturno, da memória, da beleza e da reflexão. O Espelho de Obsidiana era considerado uma ferramenta mágica usada em práticas divinatórias e rituais religiosos. Acreditava-se que Tezcatlipoca usava esse espelho para enxergar o passado, o presente e o futuro, além de revelar verdades escondidas. Ele era um símbolo de introspecção, autoconhecimento e poder divinatório.
2) Sobre as 3 RVs, ver ASCOTT, Roy. Quando a Onça se Deita com a Ovelha: a Arte com Mídias Úmidas e a Cultura Pós-biológica, in: Arte e Vida no Século XXI – Tecnologia, Ciência e Criatividade, Diana Domingues (org.), São Paulo: Editora Unesp, 2003, p.273-284.
3) A lenda do "Cão Breu" é uma narrativa folclórica presente na tradição oral brasileira, especialmente em ambientes rurais e interioranos. Essa lenda varia em detalhes de região para região, mas geralmente envolve a figura de um cão negro, muitas vezes de olhos flamejantes, que é associado a eventos trágicos. A palavra "breu" etimologicamente remete à
escuridão e à sombra, o que sugere uma conexão com a ideia de um cão sombrio ou demoníaco. Este cão é frequentemente visto como um presságio ou mensageiro, anunciando
desgraças iminentes. A lenda muitas vezes é interpretada como uma personificação da culpa, do remorso ou de eventos ruins que estão por vir. O "Cão Breu" pode ser percebido como um ser misterioso e sobrenatural, relacionado a aspectos sombrios da psique humana. A presença desse cão na narrativa pode ser interpretada como um alerta sobre consequências negativas relacionadas a ações passadas ou como um símbolo de eventos trágicos que estão prestes a acontecer. É importante observar que lendas folclóricas podem variar amplamente, e diferentes comunidades podem ter suas próprias interpretações e nuances sobre a lenda do "Cão Breu".
4) “Elonions” é uma brincadeira poética, feita por mim, de aglutinação etimológica entre o primeiro nome do bilionário Elon Musk e a palavra em inglês onion (cebola), ambos geradores de lágrimas. 5) “Supay” é considerado como o “Senhor do Submundo” na cultura andina. Em MekHanTropia, há uma lenda que ele é o único ser que consegue exercer influências sobre o “Cão Breu”. Supay é um ser repleto de nuances e complexidades, especialmente quando surge nos estados imersivos da “Realidade Vegetal” por meio dos sonhos dos personagens (geralmente em pesadelos). Esse ser é fundamental para o equilíbrio de Gaia e orienta o Cão Breu acerca de seus “objetivos”, abrindo passagens transdimensionais (transmidiáticas) para essa criatura fantástica.
6) Segundo o professor Ari Riboldi, “o ‘boi de piranha’ é aquele que se submete ou é submetido a um sacrifício para livrar outra pessoa (ou grupo) de uma dificuldade ou da culpa.” Fonte: www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/o-que-significa-a-expressao-boi-de-piranha,9afccb0f8f70f0018f756c348d1b4f452vzon91v.html? . Acesso em 26/01/2024.
7) O termo/conceito poético “Binarismo Anticósmico” foi pensado pelo Ciberpajé. Disponível em: ciberpaje.blogspot.com/2021/10/veja-como-foi-se-voce-nao-acompanhou.html Acesso em: 26/09/2022.
Créditos:
Fredé CF: letras, vozes, músicas (violão, contrabaixo, sintetizadores, samplers, silêncios e
ruídos), conto mekHanTrópico e narrativas transmidiáticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário