Me Aluga Não!

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Goiânia, Goiás, Brazil
um entretenimento barato. Agite antes de usar. Não jogue fora em vias públicas. Mantenha a cidade limpa. Desculpe pelo transtorno. Os benefícios ficam.

sexta-feira, maio 25, 2018

Expressionismo Breu

"Cão Breu pós-humano" sobre desenho original feito pelo artista Edgar "Ciberpajé" Franco como dedicatória pra mim durante o lançamento de seu livro "Oráculos" na Mostra Trash no fim de 2017 em Goiânia-GO-Brasil.

Know your shadow! Take a look to yourself!
Look inside your mind. Look inside your soul.
Take control about the illusion of your world!

O mundo é você!
(De dentro pra fora)
O mundo clichê!
(De fora pra dentro)
Transfiguração.
Metamorfose.
Vísceras lunar. O uivo do despertar.

Blow up your mind! Wake up!

Cani Buiu. Black Dog. Cão Breu.
Transmutar.
Reconfigurar o DNA.

O inferno é agora! O tempo não existe!
Oh Lord, Get Back! Get back, get away!

Fogo fluido.
Liquidez radioativa.
Notas diminutas.
Aracnídeas.

Blow up your mind! Wake up!

Quem olha pra fora, sonha. Quem olha pra dentro, desperta.
Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos.

CIDADE DE SANGUE



Ontem, após sair do lançamento da graphic novel “Cidade de Sangue” que o amigo Márcio Jr. produziu em parceria com Julio Shimamoto, cheguei em casa, abri um vinho e fui ler a obra. Já de cara me impressionei com os traços de Shimamoto (feitos inacreditavelmente com ferro quente e maçarico) que me remetem à estética dos expressionistas e suas distorções das formas. Tive uma sensação parecida a de quando assisti pela primeira vez ao clássico “O gabinete do Dr. Caligari”: imerso em um caos de linhas turvas, formas desfiguradas e contrastes acentuadamente grotescos. Uma representação desordenada da realidade trazendo aquela boa e velha sensação de que tudo está para ruir a qualquer momento, e é exatamente isso que acontece. Tudo rui na Goiânia narrada por Márcio Jr. e Shimamoto, seja em 1995, seja em 2018. Tudo parece estar por um fio. Nada se estabelece em um solo firme e harmônico. Mesmo em contextos de alegria, a perturbação está (oni)presente. A planície da capital goiana que nos acostumamos a ver diariamente, caracterizada pela linha do horizonte e pelas formas rígidas da arquitetura Art Déco, é decomposta em pról de uma fluência em traços diagonais repletos de angústia e, principalmente, SANGUE. Um horror explícito nas expressões dos personagens, cenários e que é acentuado pela colorização em um vermelho estarrecedor feita com propriedade por Tiago Holsi.
Aos moldes bukowskianos, a cadência narrativa da graphic novel nos aproxima e ao mesmo tempo nos repele dos personagens, causando uma espécie de divisão moral em nós mesmo, estapeando-nos com nossos valores sem cair no papo melodramático de bem x mal, mas, pelo contrário, construindo uma representação calcada na crueza da humanidade, destoada de uma polarização maniqueísta e que acentua traços típicos humanos sobre questões existenciais que ocasionalmente nos acomete. Não há final feliz ou triste. Não há bem ou mal. As coisas simplesmente são, acontecem e se dão por meio de ações e reações na diegése da obra. A dúvida da fertilidade traduzida como uma base de sustentação da família. O amor em tempos de ódio. O sexo, a violência, o escárnio diabólico de uma vida enferma que transforma o mundo representado em um grande manicômio, conduzindo-nos por meio do personagem ao abismo infernal de ser julgado culpado injustamente por um crime que não foi cometido. Encarcerado, vilipendiado, diminuído à guimba do charuto ostentado pelo chefe, o personagem cai de forma livre ao inferno, pois a morte não seria um desfecho suficientemente doloroso. A maldade escancarada de um narrador que não poupa suas criaturas. Uma cidade onde não há saída. Uma cidade de sangue e lágrimas que representa o inferno da dor e do prazer de cada dia amanhecer respirando o ar seco e empoeirado do cerrado. Uma cidade treta!