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quarta-feira, dezembro 07, 2022

(RESENHA) DEVANEIOS EM MEIO AO “PESADELO”. IMPRESSÕES SOBRE O ÁLBUM DE FREDÉ CF – POR RAQUEL ALVES DE FREITAS NUNES (JORNALISTA)

 

IMPRESSÕES SOBRE A OBRA "PESADELO" (VOL. 1 - “SUCCUBUS”)

Por Raquel Alves de Freitas Nunes*

(resenha feita no dia 20/10/2022, Dia do Poeta)

Clique aqui para ouvir ao EP "Succubus"
 

Foi desafiador fazer essa resenha, ainda mais porque eu não tinha conhecimento sobre o assunto. Foi muito interessante aprofundar na pesquisa e ampliar o meu conhecimento quanto à espiritualidade. Amo esses assuntos. Quanto ao álbum, modestamente falando e respeitando todo o processo de criação das obras anteriores, esse para mim foi o mais surpreendente. Ainda estou impressionada com a inserção da 9° sinfonia de Beethoven na quarta faixa do primeiro EP. Algo inesperado que me surpreendeu demais.  

Então, vamos à resenha sobre o álbum “PESADELO”, dividido em dois EPs: “SUCCUBUS” e “INCUBUS”.

PARTE 1 - SUCCUBUS

Clique aqui para ouvir ao EP "Succubus" 
Ao tentar deitar para descansar não há descanso. Seu sono é interrompido. Você é importunado. Energeticamente sugado. Não tem para onde correr. Não é possível se defender.  Essa criatura feminina demoníaca, SUCCUBUS, seduz e se manifesta com atitude vampiresca, eu diria. Ladra da sua noite. Rouba sua energia. Se aproveita com deleite da sua vulnerabilidade. Tentação em forma de diabo vinda das profundezas mais obscuras das crenças mitológicas. Em um paralelo com a performance de SUCCUBUS, nos é aqui apresentado a forma de expor nossos anseios, juntamente com a iminência do que idealizamos e do que nos assombra. A necessidade de expurgar nossas aflições, nossos segredos, nossos questionamentos. A expressão de nossas emoções por meio de variantes psíquicas perturbadoras que invadem nossos sonhos. A compulsão digital que não nos permite (des)conectar, uma vez que os algoritmos hoje praticamente fazem parte de nossa composição neural. Nos sentimos sugados e fracos energeticamente como se pudéssemos nos comparar com as sensações oriundas da presença de SUCCUBUS, como se vivêssemos condicionados a essa situação de uma verdadeira rendição moral, pessoal e social diante do sistema caótico em que vivemos.

Fredé CF apresenta neste EP uma sonoridade multifacetada e arranjos transcendentais. A beleza sonora que nos leva da música clássica à batida eletrônica. SUCCUBUS apresenta nossos devaneios em meio ao “PESADELO” que se desenvolve aqui de maneira ÍMPAR, literalmente, e ele nos propõe evidenciar as respostas através dos versos musicais. O despertar de nós mesmos. É onde encontraremos respostas para o que tanto buscamos. O que era para ser um sonho virou um “PESADELO”. E assim, seguimos devorados pelas mazelas que atingem a coletividade. O antagonismo social sem precedentes que não está em ressonância com o que sempre sonhamos.  Com o intuito de nos desvencilhar dessas reproduções tão realistas dos nossos pensamentos, aliados a uma situação apavorante e agoniante que vivemos, seguimos então com um pequeno spoiler de cada faixa, onde será possível analisarmos como tudo isso se desenvolve através de um olhar latente, presente na natureza humana.

Me encantei pelo questionamento sombrio e paradoxal da primeira, a angústia surrealista da terceira, a leitura intacta da mente provocada pela quinta faixa, o anseio vital da sétima, a comemoração desordenada da nona, a batida mística e eletrônica presente na décima primeira. Sendo assim, iniciamos a primeira parte desse “PESADELO”. O que desejamos ao deitar? Queremos descansar. E ao descansar o que queremos? Queremos dormir. E ao dormir será que é possível sonhar? E ao sonhar, será que vamos acordar? E ao acordar, será que realmente vamos despertar? Diante desse desafio onírico, Fredé CF apresenta logo abaixo 6 motivos para você ultrapassar as barreiras do seu subconsciente e despertar para a sua transcendência vital. Vamos lá? 

Faixa 1 – O ESTRANHO MUNDO DE JURUPARI COM ZÉ DO CAIXÃO EM MEKHANTROPIA:  O despertar da consciência começa por aqui. Nesta primeira faixa, Fredé CF une por meio de uma sonoridade peculiar aos rituais indígenas o mito de Jurupari, que na mitologia indígena é conhecido como o demônio dos sonhos com um trecho presente no filme “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, de 1968, narrado pelo próprio cineasta José Mojica Marins. Um monólogo proposto por uma citação baseada em fundamentações existencialistas arrebatadoras, que desnudam as profundezas da essência humana. Uau!!

Faixa 3 – SWEET DARKNESS:  Alucinação poética! A letra desta faixa foi composta durante um momento de dor e introspecção vivenciado por Fredé CF em decorrência da contaminação pela Covid-19. A faixa toda em inglês tem como principal objetivo traduzir as dores, angústias e medos. Repressões sombrias. Esgotamento mental. Nomofobias. Apatia psíquica. Uma sequência melancólica, porém, elegantemente harmoniosa sobre a exposição de nossa vulnerabilidade e fragilidade emocional.

FAIXA 5 – TELA MENTAL PARTICULAR: As percepções cognitivas ocultas estão presente na terceira faixa do EP, que conta com a participação mais do que especial de Guilherme Tell, guitarrista da banda Cão Breu que brilhantemente dá o ar da sua graça na sonoridade dessa faixa que começa com um misto de instrumentos. Ouço acordes de um violão, surgem barulhos que se assemelham ao barulho do vento. Me recolho profundamente diante da diversidade dos meus pensamentos.  “Tela Mental Particular” vem de encontro com o instigante mistério do desvendar da consciência. O cérebro humano como ciência a ser explorada. Tão complexo que não permite ser transplantado. Tampouco habitado por outrem. Apenas explorado pelo que sigilosamente permeia a mente.

FAIXA 7- A VERSÃO MAIS JOVEM QUE SEREI: As expectativas oníricas e vitais são mencionadas aqui. Eis que chegamos na minha faixa preferida. A necessidade de descobrir e redescobrir o que a vida tem a nos oferecer juntamente com a transmutação diária de todos nós. Abrir as portas para o desconhecido. A ânsia por viver! Me impressionei com a alternância sonora de ritmos aqui proposta pela genialidade musical de Fredé CF.  Os acordes de um violão ritmado que vão de encontro com a 9° sinfonia de Beethoven definitivamente me deixou boquiaberta com essa bela surpresa com status de Grand Finale!

Faixa 9 - UM BRINDE AO CAOS: A mistura de elementos musicais presentes no início da faixa com sintetizadores, violão e outras mixagens me deixaram hipnotizadas. A faixa conta com a participação do DJ , arquiteto, pesquisador, designer e musicista Maurício Mota, que por meio de suas intervenções sonoras, juntamente com Fredé CF, conseguiram elaborar um sensível questionário de perguntas que reúnem elementos da natureza, sentimentos, emoções, um misto de situações que passamos o tempo todo incessantemente procurando por essas  respostas em meio às nossas indagações cotidianas. A morte. A vida. As relações. As sensações. As conexões. A loucura desordenada de tudo que observamos, vivemos e sentimos. Um brinde ao caos e a essa maravilha musical!!

FAIXA 11 - ELETROCHOCK! (MÚSICA INCIDENTAL: KALI GAYATRI): A sua cura energética está aqui. Batidas eletrônicas, samplers, O mantra indiano aqui aparece com o propósito de romper o ego. Freneticamente ritmado, o mantra emana a energia cósmica que deverá sempre dar espaço ao novo. Que vibra a cada verso e ativa uma memória afetiva onde, com “Black Dog”, voltamos ao túnel do tempo com o Uivo pioneiro e delirante do Cão Breu que finaliza de forma apoteótica esse álbum.


IMPRESSÕES SOBRE A OBRA "PESADELO" (VOL. 2 - “INCUBUS”)

Por Raquel Alves de Freitas Nunes*

(resenha feita no dia 31/10/2022, Dia Nacional da Poesia)

Clique aqui para ouvir ao EP "Incubus"

Chegamos ao segundo ato desse pesadelo, não é mesmo? Cada um dos álbuns lançados por Fredé CF me traz alguma reflexão, me toca, me emociona de forma diferente através de cada linha, cada estrofe e cada verso, aliado à sua sensibilidade poética que é algo que me encanta. INCUBUS além de me proporcionar esse bombardeio de emoções, chega com tudo isso e um “plus” a mais. Ao fazer a resenha identifiquei coincidências impressionantes que se tornaram acrônimos numéricos, sonhos reais, enfim...uma impressionante mensagem do universo que não aconteceu com os outros oito álbuns anteriores. Algo surreal. Mágico. Falando em magia e coisas bonitas hoje é o dia da poesia e meu pensamento remete a um tempo distante, para ser mais específica, volto em maio de 2021, na poesia do café, escrita e publicada nas redes por Fredé CF bem próximo do lançamento do EP “Ecos Oníricos”. De todas, é a minha preferida.

Sem mais delongas, vamos à resenha?

 

PARTE 2 - INCUBUS

Clique aqui para ouvir ao EP "Incubus"
Quem nasceu para ser poeta nunca perde a poesia, não é mesmo? E nessa onda é que Fredé CF nos presenteia com INCUBUS, o segundo ato desse “Pesadelo”. INCUBUS é a vertente masculina de SUCCUBUS. Criatura demoníaca que seduz sexualmente as mulheres enquanto elas dormem. O álbum foi lançado no dia (06/09) em referência ao dia do sexo que faz jus a representatividade de INCUBUS. Repleto de emoções, expansão dos sentimentos, conectividades e expectativas com o que nos cerca aliado a um violão acústico sem igual que ressoa pelas faixas, em referência ao dia de hoje e como presente pelo dia da poesia, vamos resenhar esse álbum incrível.

A busca por respostas para esses devaneios sombrios ou cheios de luz é o que iremos iniciar nessa resenha. O pesadelo foi tão grande que teve que ser dividido em dois episódios musicais, com o lançamento de duas obras com a finalidade de despertar a consciência e promover o autoconhecimento. Sendo assim, exponho o que achei mais relevante em cada poesia sonora deste EP:

Na faixa 2 temos o luto em prol do ativismo ambiental, na faixa 4 temos a elucidação dos sonhos, a dor emocional ocasionada pela faixa 6, às exigências impostas por nosso cotidiano tão presente na faixa 8, a elucidação poética trazida pela faixa 10 e o renascimento vital proporcionado pela faixa 12. O álbum é repleto de emoções do início ao fim. Detalhe que em INCUBUS as faixas são PARES, já em SUCCUBUS elas são ÍMPARES. O EP é muito voltado para a autopercepção e a elucidação de sentimentos. E é nessa vibe comemorativa a esse dia tão especial que Fredé CF nos convida a brindar essa data com 6 emocionantes doses de poesia logo abaixo:

FAIXA 2 – SANGUE DERRAMADO:  A tristeza poética começa aqui. Na faixa 2 desse álbum, Fredé CF homenageia de forma profunda e tocante dois grandes símbolos da luta pelo ativismo ambiental no Brasil: O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips, que foram brutalmente assassinados em junho deste ano. O sangue derramado aqui escorre no decorrer da faixa e ecoa de forma revoltante em meio ao descaso governamental que sucumbe a sua responsabilidade quanto a proteção às minorias e as causas ambientais. A canção indígena entoada por Bruno, vai ao encontro do silêncio do povo da floresta que ficaram órfãos e desprotegidos de sua grande luta em prol da proteção aos povos indígenas. Emoção literalmente à flor da pele.

FAIXA 4 – PISADEIRA: O eu lírico poético começa por aqui. O violão de Fredé CF inicia a faixa com acordes frenéticos que se desenvolve em quase toda a faixa e ao chegar ao seu final alternando para uma esplêndida sonoridade de um compasso mais lento. Em momento algum destoa do pesadelo real que se intensifica diante dos desejos, da esperança, das evidências, de tudo que é permitido diante do que se pode sonhar. Quando se acorda ao invés de realizar o sonho, temos um pesadelo, onde somos atraídos por toda força criativa e enigmática das frases: MORRI NESSA SEXTA-FEIRA/SERÁ QUE TRANQUEI BEM O PORTÃO? Indagações como essas adentram o nosso inconsciente e finaliza a canção acompanhado por um beat box muito bem executado por Fredé CF e assim, vamos tentando decifrar os mistérios desse eu-lírico arrebatador.

FAIXA 6 -NADANDO NO SAL COM SAPOS: A melancolia poética se manifesta aqui. A introdução dessa faixa traz para mim um cenário cósmico. É como se estivesse orbitando pelo espaço, pelas galáxias, por meio de satélites e planetas. E nessa viagem imaginária, ou melhor, interplanetária, Fredé CF busca respostas para seu desabafo tão agoniante. Com uma voz icônica que remete ao horror e ao terror, a narrativa musical se desenvolve como uma súplica mediante a vontade de se libertar de suas angústias, das suas dores e seus conflitos emocionais. A loucura digital cotidiana que tanto seduz e impressiona, também contribui para esse panorama tão conflitante. Desânimo. Fúria. Desesperança. “Nadando no Sal com Sapos” é o relato desesperado da dor emocional que sufoca, aprisiona e atormenta. 

FAIXA 8 - ESCRAVO DE AGRADO: A fúria poética se manifesta por aqui. Nesta faixa Fredé CF relata as exigências das nossas demandas de cada dia, seja elas no trabalho, no meio acadêmico ou em outros momentos da nossa vida onde temos que utilizar a palavra disposição para lidar com tantos compromissos. O violão ecoa em um mesmo ritmo, como se as cordas fizessem parte dessa rotina diária do agrado sem fim. A imposição de lutar e vencer em prol dos sonhos alheios. Ser comandado e obedecer aos comandos sem reclamar, independente de quaisquer circunstâncias, sejam elas psíquicas ou físicas. Esgotamento.  A busca por resultados que resulta na vaidade que irá inflar o ego de alguém. Pressão. A necessidade infinita de agradar independente de qual artifício será utilizado. O indivíduo como agente principal na máquina da produtividade. Do status. A ambição onde nunca se pode dizer não. A escravidão em tempos modernos. “Escravo de Agrado” é a expressão visceral em prol de um olhar mais humanizado para as exigências sociais.

FAIXA 10 – O ESTRANHO MUNDO DA POESIA (DIÁRIOS DE QUARENTENA): As descobertas poéticas começam aqui. E no dia da poesia o que temos aqui? Um relato que foge das alucinações poéticas, como forma de entendimento de todo o desenvolvimento artístico que envolve o estranho não, mas o expressivo, maravilhoso e encantador mundo das poesias de Fredé CF. Pareidolias à parte, os mistérios da poesia são desvendados aqui por meio do significado do ato poético como uma forma de ressignificar as emoções. Além disso, traz todo o contexto artístico que envolvem estas descrições através de situações que também podem sem surrealistas e trazem à tona, a elucidação desse mundo dos delírios poéticos. Entender melhor como é composto esse processo criativo, fez de “O estranho mundo da poesia” a minha preferida do álbum.

FAIXA 12 - DESPERTAR EM MEKHANTROPIA: O despertar poético começa aqui. O EP que começou tão triste após a tragédia relatada em “Sangue Derramado”, se encerra de maneira entusiasmada com o despertar para a esperança. A certeza de que querer viver é desfrutar de tudo que a vida puder nos proporcionar. Novas experiências é saber que a vida renasce a cada dia. “Despertar em MekHanTropia” é desabrochar para as possibilidades. É de dentro para fora. É a cura da alma, da mente e das dores. É o grito de superação mediante a intensidade fugaz de viver cada dia como se fosse o último.

 *Raquel Alves de Freitas Nunes é jornalista.

terça-feira, setembro 27, 2022

(REFLEXÕES) O "Pesadelo" PsicoBinário MekHanTrópico de Fredé CF

No álbum Pesadelo (2022) – composto por dois EPs/atos intitulados como Succubus (Vol. 1) e Incubus (Vol. 2), lançados nos dias 22/08/2022 e 06/09/2022, respectivamente –, desloco questões que me pungem atualmente potencializando-as à uma dimensão onírica cuja abordagem se dá acerca das desconexões com o imaginário e mazelas decorrentes de uma sociedade tecnocrata e necropolítica. 

Clique nas imagens abaixo e ouça os EPs:

EP (Vol. 1) Succubus, de Fredé CF. Arte da capa: Ciberpajé.


EP (Vol. 2) Incubus, de Fredé CF. Arte da capa: Ciberpajé.

Busco com essa obra narrativa musical (que se expande às visualidades) refletir sobre aspectos da condição e condução humana atual, costurando histórias alegóricas com estranhos e horroríficos personagens que habitam a imaginação. Com influências como Bob Dylan, Buffalo Springfield, Pink Floyd, Mark Lanegan, Sérgio Sampaio, Chico Science & Nação Zumbi, Paulinho Moska, Arnaldo Antunes, entre outras, as faixas transitam pelos contrastes e colagens de sons, ruídos e vocalizações (como em todo o projeto musical solo situado em MekHanTropia), entre o orgânico, acústico, natural, analógico, atávico e o eletrônico, maquínico, digital, sintetizado. Uma espécie de dark-folk psicodélico, numa perspectiva primitivista e contestatória, todo criado, captado, mixado, produzido e distribuído pelo smartphone. 

O arquiteto, designer, músico e artista visual Maurício Mota (que também participa com sons e ambientações eletrônicas da faixa Um brinde ao Caos), comenta que a obra:

"Não é um trabalho que traga uma raiva, um rancor – apesar dos timbres evocarem isso em essência. É uma coleção de sons que somam a uma atitude de combate. Da não aceitação. Fredé faz todos os registros em casa, no quarto, usando um celular e vários plugins de gravação/produção musical. Falo que são registros porque é uma espécie de documento a obra como um todo. Funciona muito bem desta maneira, pois te convida, através de suas camadas de sons e texturas, a passear por um cotidiano atual da vivência humana neste grande e diverso país latino americano que é o Brasil. É uma história sem estruturas fixas. Uma aura solta no ar, esperando uma energia grudar" (Maurício Mota, 2022).

As capas dos dois EPs/atos/volumes são de autoria do Ciberpajé (a.k.a. Edgar Franco) e representam os gêneros de cada um desses demônios, sendo “Succubus” um demônio feminino e “Incubus” um demônio masculino, expondo a reflexão sobre a institucionalização da binaridade das coisas no imaginário. A abordagem desses conceitos foi instigada por diálogos no grupo de pesquisa “Cria_Ciber: criação e ciberarte” e está presente em todo o conceito do álbum como uma crítica à linguagem digital binária dos “zeros” e “uns” que aniquilam as zonas cinzentas de subjetividades e nuances típicas do ser humano, instituindo extremos de pensamento que não levam em conta a diversidade. 

Alysson Drakkar, artista, criador, fundador e membro da banda Luxúria de Lillith, também comentou sobre a obra: 

"O tudo e o nada.... Da existência.... Esses elementos tribais, a música acústica, a poesia sombria, e esses elementos visuais deixaram a obra única." (Alysson Drakkar)

Em MekHanTropia, tais demônios institucionalizam oníricamente o que chamo de (psico) “Binarismo Anticósmico” a partir dessas determinações. (O termo poético “Binarismo Anticósmico” foi pensado pelo Ciberpajé. Disponível em: https://ciberpaje.blogspot.com/2021/10/veja-como-foi-se-voce-nao-acompanhou.html Acesso em: 26/09/2022. O adaptei ao meu universo incluindo o prefixo “psico” em alusão à ideia de “psicopolítica” de Byung-Chul Han). 


Nessas obras trato sobre o horror, o inquietante, as sombras, a escuridão, tanto interna quanto externa. Tanto metafórica quanto literal. Tanto onírica quanto em vigília. Tanto pessoal quanto social. Cada volume traz 6 faixas com temáticas, conceitos e poéticas onírico-filosóficas inseridas no universo ficcional transmídia de MekHanTropia. As faixas dos volumes (Succubus e Incubus) foram pensadas para serem ouvidas intercaladas, imbricadas, interse(x)ionadas, sendo que Succubus apresenta as faixas ímpares e Incubus as pares, jogando com a ideia de transcendência do binarismo também por essa potencialização do álbum que conecta tais canções. O binarismo do volume 1 (ímpares) versus volume 2 (pares) transmuta-se e renasce em nuances transbinárias oníricas que se hibridizam e dão luz ao “Pesadelo”.


Tal experiência pode ser conferida na playlist intitulada “Pesadelo (2022)”, criada na plataforma Spotify com as obras interse(x)ionadas. Para conferir, clique em:

https://open.spotify.com/playlist/29vEb4lrt1K5PgMngDl32r?si=36396429fa2c4789

A obra conta com participações especiais diversas e com inserções incidentais ressignificantes. Como já comentado, os títulos dos volumes são oriundos de nomes atribuídos a demônios sexuais oníricos sugadores de energia que, em MekHanTropia, assombram os inconscientes psicobinários durante o sono, regulando as subjetividades dos indivíduos (bovíduos) deste universo. Incubus e Succubus são, em essência, relacionados ao pesadelo. Segundo Mario Corso (2004), "Pesadelo, em português, assim como em espanhol (pesadilla) deriva de peso (…) Os romanos falavam de nocturna oppresio. Na idade média, eram conhecidos o Incubus e o Succubus, que, na verdade, eram duas faces de um mesmo ser noturno demoníaco" (CORSO, 2004, p. 147).

Teaser/Prólogo do clipe "Pisadeira"

Penso ainda na figura da “Pisadeira”, um ser fantástico maligno responsável pelos pesadelos no imaginário brasileiro. Alguns povos indígenas tinham um ser parecido com esse chamado “Kerepiíua”. Segundo Mario Corso (2004, p. 147), “a Pisadeira é um fantasma em forma de mulher velha que vem oprimir o peito de quem dorme, ou seja, é a personificação do pesadelo”. Segundo o autor, a Pisadeira é uma confluência de mitos que envolvem dimensões, tempos, espaços e sonhos distintos.
Utilizo essas ideias de opressão, sufocamento e pesadelo, como referência para a representação da lenda da Pisadeira inserida em MekHanTropia pelo videoclipe homônimo lançado em 16/09/2022, no qual apresento uma micro-narrativa inserida na descrição e no início do vídeo, que versa sobre um pesadelo que o personagem Valdez tem sobre um vislumbre de um futuro distópico de destruição provocada pela desconexão do ser humano com sua essência natural e ascenção das máquinas. Porém, em meio à destruição e obsolescência das máquinas, surge novamente a vida. As imagens foram capturadas em Brasília e Goiânia, em espaços como a UnB, a instalação em feita pelo grupo Corpos Informáticos, o estádio Antônio Accioly, entre outras.


Sobre o videoclipe, o artista transmídia, professor e pesquisador Ciberpajé (aka Edgar Franco) comentou: 

"videoclipe visceral, para uma faixa enérgica com uma letra cheia de sutilezas e múltiplas simbologias! É muito legal ter acompanhado alguns dos Takeshi desse vídeo quando foram filmados e estar como ator coadjuvante nele! Parabéns Fredé, por sua incrível obra de fôlego com tanta força e múltiplos nuances criativos!" (Edgar Franco)

A comunicadora social Raquel Freitas também deixou suas impressões sobre a obra:

"O vídeo surpreende tanto pela mistura rítmica como pelos cenários diversos que, aliado aos versos tão sensíveis e ao mesmo tempo agoniantes, ressaltam a intensidade da sua força criativa." (Raquel Freitas)


Há também o videoclipe da faixa intitulada “EletroShock (Kali Gayatri Mantra)”. A música faz alusão à deusa indiana Kali, além de haver uma referência ao Cão Breu andando nas sombras noturnas pela frase dita durante a música: “The Black Dog walks at night”. Na mitologia oriental, Kali é uma deusa muito poderosa e muitas vezes temida. Esse temor vem muito de sua aparência e da ignorância sobre a dualidade que ela representa: bem e mau, claro escuro, etc. Os contrastes permeados pelas nuances que se dão nesses entres maniqueístas binários. Kali tem relação com a noite eterna, com o poder do tempo, o infinito e a transformação inexorável. A destruição para recriar. 

Kali é representada pela cor preta em alusão à escuridão, estágio inicial de todas as cores e de onde vem a iluminação. Ela traz uma guirlanda de cinquenta cabeças humanas, representando letras do alfabeto sânscrito, o que simboliza o conhecimento e a sabedoria. Ela usa também um cinto de mãos humanas decepadas, representando os principais instrumentos de trabalho e, metaforicamente, a ação do karma. Ela representa a libertação dos ciclos do karma. Seus quatro braços simbolizam o círculo da destruição (lado esquerdo) e da criação (lado direito), representando os ciclos e ritmos inerentes ao cosmos. Ela segura uma espada ensanguentada e uma cabeça decepada. A cabeça da ignorância e a espada do conhecimento. Seus três olhos representam o Sol, a Lua e o Fogo, com os quais ela pode observar o passado, o presente e o futuro. Esses poderes também dão origem ao nome “Kali”, que vem de “Kala”, o termo sânscrito para “Tempo”.

Kali representa a morte do ego, que vê nela uma terrível ameaça. Sendo assim, em uma cultura cada vez mais egóica verá Kali como algo assustador. O mantra cantado na faixa diz: “Om kalikaayae cha vidhmahe Shamshaanvaasinyae dhimahi Tanno aghoraa prachodayath” (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Z6UBFBGiGDU&t=1745s Acesso em: 05/07/2022).

Sobre o videoclipe "EletroSHOCK!", o artista transmídia e multimídia Léo Pimentel (a.k.a. Amante da Heresia) comentou:

"uou! respirei profundamente, pirei intensamente e me inspirei transgressivamente! muito phoda! da música que liberta nosso corpo dos grilhões da alma - esta máquina de criar âncoras para nossa dança - à narrativa visual em loopings, voltas e revoltas! globo e glóbulos da morte! adorei! e por isso uma provocação: nós, humanos, demasiado humanos é quem trazemos o vazio ao mundo, para este ser realizado em toda a sua plenitude. e o pós-vazio? o que seria isso? a abstração completa? ou a realização da máxima de douglas adam, "nada é impossível. mas altamente improvável"? hahaha - valeu grande fredé! belezura de obra!" (Amante da Heresia)

Penso que as máquinas podem criar âncoras na gente (e geralmente é o que acontece em função do sistema da hiperprodutividade), mas também podem soltar a imaginação. O problema, assim, talvez esteja nas maneiras como as máquinas estão sendo usadas e fruídas. A frase de Adams (trazida pelo Amante da Heresia) me fez pensar que entre o impossível e o improvável há a vida em toda a sua complexidade e possibilidade, e, por isso, resistência. A vida e suas nuances como a tão clamada resistência, assim como a arte. E a morte faz parte da vida (e da arte) e nos estapeia a cara constantemente mostrando que tudo é movimento, tudo muda o tempo todo, num movimento de des-apropriação de tudo que se coloca como “o que é”. Rastros in-significantes. Pinceladas de ausência. Como se o vazio fosse entendido enquanto um meio de afabilidade entre as imagens que passam uma nas outras constantemente. Imagens aceleradas pelas máquinas. Um desprendimento intenso entre a ausência e a presença, entre ser e não ser, sem expressar nada em definitivo. Nada urge, nada se limita, nada se fecha, e ao mesmo tempo tudo se aconchega e se espelha no fluxo binário delirante. E não adianta querer que as coisas sejam imoveis e imutáveis…nem na morte elas são. Não temos esse domínio ilusório. Acha-se que temos o poder de domínio sobre o caos…doce ilusão…é por isso que penso que cada momento é importante, pq nunca sabemos o que irá acontecer no momento a seguir. E cada vez presta-se menos atenção aos momentos. Na possibilidade e na probabilidade de viver está presente muita dor e sofrimento (utilizados como estratégia de cooptação pela anestesia), mas também afetos, amor e alegrias presas nos instantes cada vez mais curtos e fugazes aniquilados pelo hiperfluxo e hipercompetição…instantes mágicos que se diluem sem pausa nas telas do mundo 24/7…isso é o que me assusta. 

De forma geral, o sono é, ainda, uma barreira de resistência contra o sistema, se estabelecendo como um refúgio anti-consumista. Quando dormimos não estamos consumindo desvairadamente, nem tampouco sendo seduzidos diretamente para isso, embora cada vez mais consumimos nosso sono com telas luminosas que iluminam rostos antes e durante o adormecer. Todavia, o sono demanda um desligamento da nossa atividade junto aos aparelhos para que entremos em um estado de inoperância e inatividade. Para haver o sono, deve-se haver a desconexão da realidade virtual e a imersão na realidade onírica transcendental do inconsciente. Somos deslocados a um ambiente desprovido de aquisições materiais. Abandonamos, ao dormir, os cuidados e a dependência de outrem e acessamos novas modalidades de relacionamento com o tempo, no limiar entre o natural e o social, pelo imaginário. Em oposição, cada vez mais o sistema atua nos instituindo uma desfundamentalização do sono e do descanso, seduzindo-nos por ideais de prazeres que vem em forma de dados vendidos às empresas pelas redes telemáticas. 

Os remédios, as drogas sintéticas, as tecnologias, as ideias de bem-estar, os divertimentos e até mesmo a arte e outras possíveis resistências são esvaziadas de sentido como estratégia de cooptação pelos tentáculos do neoliberalismo, acelerando-nos rumo à produtividade de forma cada vez mais clara. Talvez seja esse o maior de todos os pesadelos pensados aqui nessa obra: o horror de não se ter controle sobre nada, em especial sobre o que se pensa, mostra e sente, imerso em um fluxo onírico de fragmentação infinita hipercultural.

Na narrativa do universo de MekHanTropia, pelos sonhos, o sistema acessa desejos mais profundos de cada um. O controle psicobinário é instituído alterando o pensamento. O malware h6n66 recodificou aquilo que se chamava de “humano”, criando uma horda demoníaca de zumbis tecnocratas milicianos acríticos. Essa horda foi batizada como “HumanCron” – em homenagem as variantes virais que foram catalogadas na época do “amanhecer mekhantrópico” –, e são lideradas pelo déspota necropolítico conhecido como “Messias Genocida”. A horda tem a incumbência de gerar pesadelos algorítmicos em quem tenta “despertar”. “Succubus” e “Incubus” são demônios nobres dessa horda, a serviço do Genocida. Pelos sonhos, eles sugam a energia vital e prendem os resistentes em seus pesadelos mekhantrópicos.



Ficha Técnica:
Essa obra é parte integrante da tese-criação transmídia “MekHanTropia” de Fredé CF (a.k.a. Frederico Carvalho Felipe), desenvolvida no Doutorado em Arte e Cultura Visual da FAV UFG sob a orientação da Profa. Dra. Rosa Berardo e co-orientação do Prof. Dr. Edgar Franco. Vídeos, letras, poesias, fotos, narrativas e músicas: Fredé CF Arte da capa ("Succubus" e “Incubus”): Ciberpajé. 🤘🏽🔥 F.Oak Produções 2022.



segunda-feira, junho 13, 2022

(RESENHAS) Impressões, reflexões e percepções sobre o EP "Eu hoje chorei minha morte" e o videoclipe "Resquícios de Carbono e Silício (do lado de dentro)", de Fredé CF

Olá! Acompanhe e mergulhe nas impressões, reflexões e percepções sobre o EP "Eu hoje chorei minha morte"e o videoclipe "Resquícios de Carbono e Silício (do lado de dentro)", lançados por Fredé CF no primeiro semestre de 2022. 

Os textos abaixo foram escritos espontaneamente por Denise Carvalho, Edgar Franco, Leo Pimentel, Larissa Dias, Raquel Alves e Gazy Andraus (nessa ordem). 

Não se esqueça de clicar nos hiperlinks para acessar as obras. Se puder, me mande também suas impressões pelo e-mail fredcfelipe@gmail.com ou pelo Instagram @fredecf
 Boa fruição!

Clique aqui para ouvir o EP "Eu hoje chorei minha morte"

Acompanhe abaixo as impressões, reflexões e percepções de professores, artistas, comunicadores, ativistas, magistas, pesquisadores, psicanalistas, filósofos, etc. sobre o EP “Eu hoje chorei minha morte” e sobre o videoclipe "Resquícios de Carbono e Silício (do lado de dentro)", obras de Fredé CF:

Denise Carvalho: Olá Fredé. Acabei de ler seu texto sobre o novo álbum. Incrível! Adorei!!! Muita filosofia e com questões reflexivas profundas. Você está melhor a cada dia, desenvolvendo um conteúdo e linguagem únicos. Parabéns mesmo. As músicas de "Eu hoje chorei minha morte", para mim, trazem uma pegada tipo Zé Ramalho...Uma espécie de mistura entre mpb-folk-rock-rap-psicodélico-progressivo...

Senti esse EP mais musical e rock'n roll! Simplesmente demais!!! Em MekHanTropia, por exemplo, senti como se você estivesse agoniado, com medo, sabe? Neste agora a vibe é bem diferente. Sinto você mais jovem, vivendo aventuras pelo mundo e com sua própria voz (não sei explicar direito) mas me fez mergulhar em um universo paralelo. Seu som bateu como o Led Zeppelin ou o Pink Floyd bateram em mim na década de 1970 e 80, mas organizando uma resistência social e mergulhando conscientemente nas sombras. Um rock que vai além do protesto, aponta um rumo e diz: é por aqui!!! Resistência e Mergulho...é por aqui a saída!!! Muito bom mesmo! Parabéns de verdade! Olha, em seu aniversário celebramos sua vinda ao mundo e o dia é seu! Viva o Fred!!!! Mas peço uma licencinha a você para celebrar junto a maternidade e a mãe que nasceu contigo. Ouvindo você hoje nessa obra eu sinto muito orgulho por ser sua mãe. Muito talento, sensibilidade, espírito rebelde, visäo política refinada, densidade teórica e autoconhecimento. Gratidão, filho. O Rock'n Roll não morreu e acabou de reNascer no nosso Portal 40... Wow!!!! Beijos.


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Edgar Franco (a.k.a. Ciberpajé): Tenho acompanhado com entusiasmo as criações musicais de FREDÉ CF, e a cada nova obra fico estupefato pela qualidade das múltiplas atmosferas criadas e da força conceitual de cada faixa/canção. "Eu hoje chorei minha morte" é o EP mais diverso sonoramente criado por FREDÉ, nele você encontrará canções de violão e voz como a INCRÍVEL "In The World of Bones", que parece ter saído de algum disco perdido de Neil Young com participação especial de Raul Seixas, a mesma pegada está na intensa "Resquícios de Carbono e Silício (do lado de dentro)", que fecha com impacto o EP caminhando para algo minimalista e denso ao final!

Mas além das canções, a obra investe em inúmeras atmosferas diferentes que vão do dark ambient às trilhas sonoras de Ficção Científica e horror, trazendo muitos trechos em "spoken word" - na tradição de meu projeto Ciberpajé - com o qual Fredé estabeleceu instigantes parcerias que muito me honram.

"MekHanTotens TranZinários" traz a voz "muro das lamentações" de Gazy Andraus, conhecido musicalmente pelo projeto “Essence”, em um texto que conecta o conceito de zine à MekHanTropia de Fredé.

"O Oitavo Passageiro Pós-mekHanTrópico" é uma abissal viagem sonora com um clima lovecraftiniano e um texto explosivo e visceral do iconoclasta Amante da Heresia (Léo Pimentel).

Minha participação incidental na ummagummiana "O Acimador/Cani Buiu Mantra" surpreendeu-me pelo que Fredé criou com meus uivos e sons. O experimentalismo e a verve psicodélica demarcam o território autoral de Fredé CF, e esse novo EP - que marca a sua transição de (re)vida ao completar 40 anos de idade -, é um impressionante ato poético-sonoro que mexe com nossas entranhas e almas!

Parabéns, meu querido amigo! Muita saúde e sucesso sempre! E que siga brindando-nos com sua arte iconoclasta e necessária!

Sobre o videoclipe: Mais uma OBRA de IMPACTO que contribui para a expansão do universo MekHanTropia criando ramificações sonoro-reflexivas e imagéticas. A músicalidade traz a característica de trovador solitário de voz e violão em sua estrutura básica, somada aos ruídos e sons estranhos criando uma combinação inusual. As imagens criam uma bela tensão com a letra cáustica e poética com reflexões necessárias para nossos tempos sombrios, a participação de Amante da Heresia traz a sua assinatura visual que somada aos visuais lisérgico-urbanóides de Fredé CF criam uma nova dimensão. O videoclipe "Resquícios de Carbono e Silício" é um chacoalhão na alma! O Ciberpajé Recomenda!



Léo Pimentel (a.k.a. Amante da Heresia): sentimos-nos livres, porém estamos sendo amplamente vigiados. mesmo que em fragmentos as redes e as rodovias da informação, nos reúnem e nos pegam de jeito. nos fragmentam e nos recompõem como o teletransporte faz em jornadas nas estrelas. neste entre espaço conseguimos romper com o imperativo da transparência? conseguiremos ser opacos? opacidade como estratégia de resistência? pulverizar nossa opacidade a cada vez que tentam nos recompor para nos dominar? ser influencer ou não ser influencer? eis a questão? como escapar da telecracia sendo um artista audiovisual? ser monstro? sim! foi o que vi neste videoclipe! fredé entra na máquina de teletransporte, mas agora na de cronenberg, como o cientista seth brundle (jeff goldblum), mas não entra só. entramos juntos! ele e eu? hahaha sim! que honra e alegria a minha de ter sido levado junto! puxado pela mão como uma criança atentada! e dai saímos fredé e eu voando com uma única mosca monstra! hahaha valeu grande amigo! parabéns! adorei o videoclipe e o EP! adorei como você nos fez escapar da transparência telecrática mekhantrópica!


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Larissa Dias: Bom dia Fredé!! Tudo bem? Primeiro, te desejo um feliz novo ciclo! Que venham muitas alegrias, sucesso, coragem, amor e saúde neste novo caminhar! Eu estou atrasada com 2 trabalhos seus, mas curti demais esse, que parei para ouvir as 6h da manhã.

Legal a participação deste pessoal! Adoro essa voz de mestre dos magos do Gazy Andraus. O Edgar Franco sempre arrasa e também o Amante da Heresia!

Como sempre gosto muito do andamento das suas músicas e da organização do EP como um todo. Tudo ficou muito show com sua voz também!!! Arrasou! Eu vou ouvir o outro álbum em breve e depois eu comento. Sempre vejo luz nos seus trabalhos, em todos eles, e também uma inocência escondida, que todos nós precisamos recuperar para sermos alma, de verdade. Um fortíssimo abraço!


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Raquel Alves: 1982, UM ANO MUITO ESPECIAL: Sexta- Feira, 26 de Março de 1982. Sob a presidência do último presidente da ditadura militar, João Figueiredo, o governo de Ary Valadão e a prefeitura de Índio do Brasil Artiaga Lima, eis que Goiânia ganha mais um filho: Frederico Carvalho Felipe. Quem nasceu em um ano de tantos destaques, jamais poderia passar despercebido em mais uma primavera da vida, ainda mais os 40 anos de idade, comemorados com o lançamento de um EP incrível: “EU HOJE CHOREI MINHA MORTE”. Em 1982 fomos agraciados com a efervescência do rock nacional. Bandas como Legião Urbana, Titãs, Blitz, Ira!, Capital Inicial, entre outras. Já no âmbito internacional vimos o surgimento de grandes grupos como A-Ha e Propaganda. E não é só isso. Neste ano, o Flamengo foi o campeão brasileiro. Já em Goiás, o Vila Nova conquistou seu 10° título estadual (até que enfim!).Tivemos também a copa do mundo, realizada na Espanha, onde não tivemos tanta sorte, pois fomos desclassificados pela Itália, mas a seleção foi eternizada como uma das melhores de todos os tempos. Na telinha, os brasileiros se emocionavam ao assistir às novelas “O HOMEM PROIBIDO E SOL DE VERÃO” (Inclusive eu tenho esse vinil), ambas da rede globo. Nas telonas, o filme que arrastava o público para o cinema era “Carruagens de fogo” e foi o ganhador do Oscar. Melhor Ator: Henry Fonda. Melhor atriz: Katharine Hepburn. Em nossas rádios, só sucessos. Tivemos a explosão da maravilhosa “Você não soube me amar”, da Blitz. Ouvíamos com encantamento a maravilhosa “Should I Stay Or Should I Go” do The Clash, “Down Under” do Men At Work, “Just I Can't Enough” do Depeche Mode, Stevie Wonder e Paul McCartney com “Ebony and Ivory”, Djavan com “Samurai”, Lulu Santos e seus “Tempos Modernos”, Rita Lee e as maravilhosas “Banho de Espuma” e “Flagra”, Alceu Valença e sua “Morena Tropicana”, Dalto e o megassucesso “Muito Estranho”, Marcos Sabino com “Reluz”, 14 Bis e “nossa linda juventude”...Tanta coisa boa, né?! Eita! 1982 foi um ano marcante, histórico e surpreendente. De acordo com o site playback FM a música mais tocada no dia 26 de março de 1982, dia de nascimento de Fredé CF, foi “I Love Rock'n’Roll” de Joan Jett and The Blackhearts. Não é todo mundo que tem a honra de nascer ao som deste hino dos amantes do rock! O moço que nasceu com talento nas veias, veio ao mundo para expandir todo o seu brilho a todos que o rodeiam.

VAMOS AGORA COM A RESENHA:

Aniversariar é uma grande dádiva da vida, onde as esperanças se renovam e as oportunidades de se libertar para se permitir vivenciar novas experiências é um processo fascinante na vida de qualquer indivíduo.

Eu hoje chorei minha morte” é um verdadeiro presente de aniversário!

E ao desembrulhar esse presente, FREDÉ CF se deparou com muitas surpresas, que revelam a vontade incessante de renascer. Virar a página da vida. Neutralizar as dores. Desapegar. Um processo pessoal, criativo e espiritual que se transforma por meio da finitude de certas demandas, obrigações, sensações e relações que precisam sair de cena para que o novo possa surgir.

O álbum se volta para esse renascimento pessoal que o 40° aniversário proporciona. Um mergulho interno de uma forma analítica, ficcional e minimalista. O resultado é um profundo resgate da alma, da mente e dos prazeres para serem apreciados e vivenciados de maneira infinita. A razão mesclada com a emoção. O eu-lírico arrebatador como resposta a tudo que o cerca. O poder de usufruir, aproveitar, se deleitar com tudo que o futuro lhe reserva aliado a essa virada de chave junto ao encontro de um novo ciclo.

Letras futuristas, viscerais, intensas e com uma altíssima dosagem de afeto. A força de um ariano aqui representada por uma leitura musical que traduz a personalidade de Fredé CF. A descoberta de um novo momento, impulsionado pelo renascimento sob um perfil humanístico e poético que será também histórico e consequentemente, cultural.
Você está preparado para o que está por vir? Eu estou, e te convido a desfrutar desse presente e comemorar junto com FREDÉ CF a chegada desse novo ciclo. Vamos lá?

Faixa 1 - SCIENTER (PS&Co ATAQ): As comemorações começam por aqui. Nesta festa do recomeço, que muito me lembrou Kraftwerk pela sua tão peculiar sonoridade, vem acompanhado de uma trilha sonora embalada por uma voz cavernosa e robotizada, se alia a barulhos de sirenes, onde acordes de violão se fundem com sons experimentais. Frases desconexas criam em minha mente um fabuloso e curioso universo ficcional, através de uma releitura de PS&Co. Ataq onde o passado vem à tona com uma nova roupagem. Com ares de modernidade e renovação. Uma atmosfera robótica que impressiona ao mergulhar em cada verso, onde se contempla hipnotizado cada mutação física, psíquica e transcendental presente nesta letra. A genialidade criativa dessa música é de tirar o fôlego!

Faixa 2 - Tá na hora de cantar os parabéns! MEKHANTOTENS TRANZINÁRIOS (FEAT. GAZY ANDRAUS): Com a participação do professor e pesquisador Gazy Andraus, parabenizo vocês pela maravilhosa faixa 02 do álbum que pode ser chamada de música ou de maravilha poética! É uma aula de interpretação da representação da mente e dos comportamentos humanos nos aspectos analíticos e cognitivos, com interrogações que permeiam o nosso subconsciente sobre o que é real e virtual. E esse silêncio não nos permite decifrar os códigos impenetráveis de nossas vidas que muitos querem desvendar e não conseguem adentrar. O renascer que alivia as dores da alma. O verso: "É no silêncio que a alma se recupera" é uma das frases mais belas que já li em toda minha vida. É ou não é lindo, gente?

Faixa 3 - A cereja do bolo está aqui! MEKHANTROPOMORFIZAÇÃO: A faixa 03 desse álbum é um grandioso manifesto artístico referente ao nome do álbum: EU HOJE CHOREI MINHA MORTE. Fala das despedidas, dos encerramentos dos ciclos, dos momentos, dos sonhos. Um relato de dor aliado a doces lembranças. Também expressa a dificuldade de exercer o desapego. Entender o que não faz mais sentido. Aceitar o que não é mais presente, entender o que é permanente, descartar o que já não se sente. A explosão vital aliado a força poética é tão forte nesta faixa que chega emociona.
Faixa 4 - E o primeiro pedaço vai para? O OITAVO PASSAGEIRO PÓS-MEKANTRÓPICO (FEAT. AMANTE DA HERESIA): Alguém pode me explicar o que é essa música? Uma pegada dark, instigante e encantadora do início ao fim. Quanta beleza poética, minha gente! A voz cavernosa associada a uma letra linda que transita entre
a beleza de um amanhecer, envolto por uma procura incessante de preencher um vazio. Tentando encontrar um sentido para adentrar em si mesmo. A psicodelia vital que pode deixar de ser preto e branco e se tornar colorida. Ainda nem me recuperei da frase de MekHantotens Tranzinários e me deparo com outra frase sobre silêncio: "Silêncio sem Tédio". Essa frase me traz diversas interpretações, onde o meu consciente ou subconsciente não tem limites para decifrá-la. Me permitem ser a nona passageira desse delírio musical?

Faixa 5 - Assoprando as velinhas com IN THE WORDS OF BONES: Melancólica, com acordes suaves, a faixa 05, cantada toda em inglês, traduz literalmente, a dor das complexidades humanas. Da importância que damos, mais as coisas supérfluas do que a própria vida. Dos ciclos, da finitude das coisas, da desesperança em meio a tristeza emocional, ocasionada pela paranóica e obsessiva ideia de que viver é sempre correr riscos.

Faixa 6 - Recebendo os cumprimentos por O ACIMADOR/CANI BUIU MANTRA (FEAT CIBERPAJÉ): A faixa 06 deste álbum conta com a participação do professor e pesquisador Edgar Franco. Me sinto completamente envolvida por essa canção. Minha mente vagueia por um universo cósmico, singular, noturno, mágico, transcendental, embalados por uivos, instrumentos mágicos, uma sonoridade que tranquiliza e inebria. A obscuridade se transforma em um bálsamo que acalenta a alma e o espírito.

Faixa 7 – Adivinha quem apareceu no final da festa? RESQUÍCIO DE CARBONO E SILÍCIO(Do lado de dentro): A baladinha que chega para encerrar a festa em grande estilo. A faixa 07 tem acordes de rock, que muito me lembrou Dire Straits, nos trazem à tona as nossas próprias dúvidas através de mensagens subliminares que teimam em ir de encontro com nossas certezas. Uma imersão nas profundezas do autoconhecimento que se revelam no silêncio do ser. Uau!

Que mergulho fantástico nessa obra! Me emocionei em meio ao contato com todo esse processo criativo. No contexto fantasioso do aniversário, apaguei as velinhas depois de ter cortado o bolo (risos). Mas o importante era curtir a festa. Como a faixa 5 era mais melancólica, achei que o apagar das velinhas só se encaixava nesta faixa, por esse motivo, a ação ficou inversa. O álbum tem um excelente repertório. As músicas com a pegada mais rock do álbum são muito bacanas e acredito que as escolhas tiveram um "dedinho" de Joan Jett, afinal, a paixão pelo rock acompanha Fredé desde o primeiro dia de nascido.

Por fim, irei escolher a minha favorita, que é o “Oitavo passageiro pós-mekHanTrópico” (feat. Amante da Heresia). A voz cavernosa com uma letra lindíssima fez com que ela se tornasse a minha queridinha desse EP. E ainda tem a frase “o silêncio sem tédio”, que sempre me impressiona e muito. Fico imaginando o que podemos fazer para que o silêncio não seja tedioso. Dormir? Talvez. Mas fiquei com essa frase na minha cabeça e fico refletindo tanta coisa...esse álbum tem um viés diferente proporcionado por esse renascimento.


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Gazy Andraus: Participo (da faixa 2) deste EP incrível do criativo Fredé CF! Fico contente com este trabalho e rápida parceria (que também foi feita numa Narrativa Visual Poética de meu Artezine Expandido). Parabéns ao autor. Ouçam!


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