O sistema que sufoca
A temporada de caça se iniciou
Com os sonhos destruídos
Quando iremos despertar?
Nem a esperança ilude mais
Nem a esperança existe mais
Colapso social
Eclosão humana
Mekhantropia.
Contrastes sociais
Nos pratos e nos muros
O sono entra em extinção.
Santiago, Brasília
Bolívia, Equador
O sangue sobe aos olhos
O gás enche de dor
Buscando a chave pra trancar minha alma.
Buscando distância de gente hipócrita.
Coincidências só existem pra quem as percebe
Vejo neonazis por toda parte.
A balança pesa só pra um lado
Prosperidade de uma classe é diferente de prosperidade de um país.
O equilíbrio é a chave da evolução
Sem diálogo não há transformação
Sem luta não existe revolução
Com o fascismo não há argumentação.
Quando iremos despertar?
Como o lobo que sobreviveu aos caçadores de cabeças
Tudo que aprendi agora abandono
Não me prendo ao absoluto
Venenos mundanos que alegram apenas aqueles
que não gostam de mim.
Gritos!
Ouço gritos na Babilônia!
E sussurros sombrios no Planalto Central!
Quanto eu sei de verdade? Quanto eu sei da verdade?
Cada indivíduo constrói sua verdade
Somos o cão que se liberta da corda
Somos o cão que se liberta da corda
Mas corre atrás do próprio rabo.
Não importa o que vem de fora
Exalando o que vem de dentro.
O que penso vem de fora ou vem de dentro?
É preciso entender
É preciso inverter!
De dentro pra fora é o movimento!
É preciso inverter!
De dentro pra fora é o movimento!
Como a raposa buscando vantagem
Amo meus dias cinzentos
Odeio a rotina que me poda a vida.
Ilumino a sombra como resistência.
E você?
Você é ouro maciço?
O Outro:
O Outro:
Nos vemos no inferno.
Caminhando no fim do mundo
Com dificuldade de respirar
Imaginando...
Quando iremos enfim despertar?
Mas não me deixe
parar de sonhar.
parar de sonhar.
Pois a partir desse momento,
quando deixarmos de errar,
quando deixarmos de errar,
viraremos máquinas,
deixaremos de lutar
deixaremos de lutar
e assim
perdida e condenada
a humanidade toda estará.
perdida e condenada
a humanidade toda estará.
Vemos
agora quiçá o declínio de um sonho de liberdade e um blefe de que vivemos em
tempos de maior livre-arbítrio. Há uma alteração induzida de modos como lidamos
com o mundo. Uma inversão de valores acerca de quem somos/éramos em essência e
de como vivíamos em sociedade, frente uma (sub)existência servil e controlada
decorrente de nossa atual relação com o sistema institucionalizado e suas
ferramentas tecnológicas de controle cada vez mais eficazes.
Tal
pensamento induz à uma condição de renúncia a nós mesmos enquanto animais
orgânicos, direcionando-nos a uma MekHanTropia adoecida, em uma cultura
que centra sua intenção narrativa sobre o imaginário coletivo na ideia de
superação de metas, produtividade e desenvolvimento econômico, esquecendo os
limites naturais e as consequências que tudo isso causa. A atual pandemia
evidencia tais aspectos e acentua as dispersões de humanismo que ainda nos
restam. Devido às possibilidades de contágio, são aniquilados encontros e
afetos presenciais; estipulados limites rígidos de contato; e determinadas
relações mais intensas de dependência entre as pessoas e as máquinas. Tudo
ainda incentivado visando a ideia quantitativa de produtividade.
O
termo MekHanTropia ainda vem sendo desenvolvido e aprofundado enquanto
conceito no intuito de transcender a representação do ciborgue, (tido pela
simples mistura homem-máquina), para o processo de transformação do Homem
(antropo) em Máquina (Mekhos). Esse conceito visa nossas relações sociais e
também com o meio natural, aproximando-o ao conceito de “misantropia” – aversão
ao ser humano e à natureza humana de forma geral ou a falta de sociabilidade –
bem como as dispersões causadas pela tecnologia. Assim, um MekHanTropo
seria um tipo de ciborgue destruidor da vida natural (orgânica) e a MekHanTropia
uma indução (ou intenção) causada pelo status quo para o indivíduo se
tornar, ludibriadamente ou não, um MekHanTropo. Esta situação traria
recompensas ilusórias sobre um futuro de falsa utopia, pois, ao invés de harmonizar-nos
com o meio e com o domínio das técnicas, se basearia no luxo, lucro e bens
materiais, o que o torna, de fato, uma distopia causada pela própria vaidade do
MekHanTropo, que abdica de sua vida e se metamorfoseia em engrenagem de
aniquilação a serviço de um sistema seco, sem vida. A palavra "Han"
surge no interior da expressão, como uma homenagem ao pensador “HAN,
Byung-Chul”, crucial para essas reflexões.
Neste
sentido, cada vez mais nos distanciamos uns dos outros e de nossa essência
enquanto bicho. Mesmo conectados globalmente pela rede telemática, nos
desconectamos qualitativamente de nós mesmos. Somos aprisionados ao sistema
institucional por meio de falsas “bolhas” de aceitação e aprovação, que induzem
ao consumo e à alienação, fazendo olvidar que vivemos em sociedade. Nos
perdemos em nossa vaidade e menosprezamos a importância de cizânias enquanto
válvulas de reflexão em nossas vidas. Pior que nos desconectarmos é a
consequência que isso gera. Nos aniquilamos diante de falsas promessas de felicidade
fundamentadas no “ter” acima do “ser” pelo universo fantástico da publicidade e
das redes sociais.
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