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terça-feira, maio 18, 2021

(CONTOS MekHanTrópicos) “O Cão Breu Latino" - de Fredé CF

Valdez ficou por muito tempo completamente imóvel, como uma sinapse gráfica virtual esquecida, porém eternizada por mobgrafias e vídeos surreais. Imortal, porém sem a liberdade de deixar de ser. Imoral, ele não tinha esse poder. Essa foi sua maldição por eras. A maldição de não poder escolher. De não poder ser. De sempre ter que ter pra viver. E provavelmente deve ainda ser assim, por todo o sempre, em suas partes divididas. Suas partes maquínicas e fluidas. Suas partes virtuais, holográficas, atópicas, atemporais, ciberespaciais. Suas partes expostas sempre que alguém revive aqueles mesmos momentos decisivos congelados, comprados e estocados em algum lugar do mekhantrospaço psychotronico neural convolucional. Preso em sua alma mekHanTrópica, sem poder estabelecer novas conexões consigo mesmo, além de seus limites ali encriptados naqueles tempos e espaços restritos, voltando sempre ao início a cada play dado, como Sísifo empurrando a pedra até o cume e caindo. As únicas conexões externas possíveis à essas partes dele é no imaginário de outros, fora dele. Mais estranho que uma ficção que não possa ser teleologicamente narrada, Valdez está documentado clandestinamente para atuar no chip imaginário daqueles que não se comparam. Como um neurônio arcade-visionário que acende os bits em sua individualidade visando o pane exterior neural das redes telemáticas, projetado na aleatoriedade imprevisível da xepa da existência orgânica, resiste. Resiste a tal ponto de reexistir se esquecendo da lógica conjunta inexorável a sua intrínseca cooptação mekHanTrópica. Uma espécie de carcinoma anti-egóico que espalha em si mesmo involuntariamente e produz o próprio declínio de forma inconsciente ou até consciente demais pra pensar a respeito e se enxergar. Geralmente isso acontece quando sonha com animais. Cego demais pra ver que o inferno que teme habita nele mesmo, Valdez vacila na simples compreensão de estar conectado intrínseca e sistematicamente a tudo que lhe é exterior e, principalmente, pelo o que é interior. O mesmo macrocosmo externo existe internamente, isso ele não pode perceber. Como eu, que narro essa história, estou de fora mas pertenço a Valdez e ele a mim. E dentro e fora de mim há coisas que ele nunca terá acesso (mesmo se me acessasse). Assim como Valdez interiormente é parte de mim, eu dele e nós do cosmos e do que houver além. Diversos organismos que compõem um ser maior universal e que, além dele, existem outros seres com seus próprios mecanismos e organismos, de fora do seu universo, de fora do que há de fora do seu universo e assim sucessivamente. De certa forma omitiu (ou não se atentou) ao mesmo movimento no sentido interior dos organismos, talvez como forma de poder ou por pura distração. Como certa vez ouviu que “o ovo pode ser só um meio entre duas galinhas”, ou não. Talvez não seja uma galinha que virá. Valdez entrou em choque com uma coisa tão óbvia: somos um ser maior universal. Um meio e não um fim para outros organismos que dependem de nosso movimento para viver. Uma dança de mão múltipla orquestrada pela vida. Mesmo com apenas 6,66% de carbono ainda em seu corpo, ele leva a vida e cada vida dessas vidas que leva e leva também outras vidas, de maneira infinita, vivendo sua própria vida. O que se vê como desordem, é transição, é movimento. Nem a morte pode parar o movimento. Valdez, inconformado com tal revelação que lhe ocorreu, deixou escapar uma lágrima de nostalgia, ao lembrar da lição de esperança que seu pai Ernesto Ortega lhe disse um dia em sua infância semi-analógica, antes dos fluxos, de que "juntos ascendemos, separados caímos". A partir de então, agora ou nunca, parte das sinapses de Valdez se auto-reconhecem pixels e se tornam, de forma assíncrona, luz. Ascende. Transcende. E enfim vive invisível em meio a sombra. Viveu até que morreu, ou algo assim. Foi de fato apagado parcialmente do sistema de MekHanTropia, pois estava provocando desordens oníricas em demasia tanto nele quanto em toda rede macro e micro cósmica que o envolve e completa. Mas existe uma lenda que parte da parte orgânica dele ainda vive de forma magicka, transcendental. 3,33% de loucura infantil criativa elucidativa. A dívida que prevaleceu. Ação e reação. Se transmutou antes do fim da estrada em sonho, ao ver o efeito antes da causa, virou meio em meio a tanto fim. Se tornou lenda. Se tornou nada. MekHantropomorfização em Cão Breu. Visceral, brutal, com seus olhos flamejantes surge ocasionalmente renegado como falha do sistema pelo próprio sistema que falha em querer não falhar. Porém, de fato, é um índice fantástico, fantasmático, fantasmagórico, sobrenatural, que aponta as falhas do sistema apagando a luz que brilha em seu campo visual. Forçando uma viagem intrapessoal de olhar e integrar as sombras individuais e sociais. Por isso é tão perigoso. Por isso é tão importante. Por isso é tão visto como um mal. Por ser ainda, de alguma forma, animal! (Diários de Quarentena)

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