IMPRESSÕES SOBRE
A OBRA "PESADELO" (VOL. 1 - “SUCCUBUS”)
Por Raquel
Alves de Freitas Nunes*
(resenha
feita no dia 20/10/2022, Dia do Poeta)
Clique aqui para ouvir ao EP "Succubus" |
Foi desafiador fazer essa resenha, ainda mais porque eu não tinha
conhecimento sobre o assunto. Foi muito interessante aprofundar na pesquisa e
ampliar o meu conhecimento quanto à espiritualidade. Amo esses assuntos. Quanto
ao álbum, modestamente falando e respeitando todo o processo de criação das
obras anteriores, esse para mim foi o mais surpreendente. Ainda estou
impressionada com a inserção da 9° sinfonia de Beethoven na quarta faixa do
primeiro EP. Algo inesperado que me surpreendeu demais.
Então, vamos à resenha sobre o álbum “PESADELO”, dividido em dois EPs: “SUCCUBUS”
e “INCUBUS”.
PARTE 1 - SUCCUBUS
Clique aqui para ouvir ao EP "Succubus" |
Fredé CF apresenta neste EP uma sonoridade multifacetada e arranjos
transcendentais. A beleza sonora que nos leva da música clássica à batida
eletrônica. SUCCUBUS apresenta nossos devaneios em meio ao “PESADELO” que se
desenvolve aqui de maneira ÍMPAR, literalmente, e ele nos propõe evidenciar as
respostas através dos versos musicais. O despertar de nós mesmos. É onde
encontraremos respostas para o que tanto buscamos. O que era para ser um sonho
virou um “PESADELO”. E assim, seguimos devorados pelas mazelas que atingem a
coletividade. O antagonismo social sem precedentes que não está em ressonância
com o que sempre sonhamos. Com o intuito de nos desvencilhar dessas
reproduções tão realistas dos nossos pensamentos, aliados a uma situação
apavorante e agoniante que vivemos, seguimos então com um pequeno spoiler de
cada faixa, onde será possível analisarmos como tudo isso se desenvolve através
de um olhar latente, presente na natureza humana.
Me encantei pelo questionamento sombrio e paradoxal da primeira, a angústia surrealista da terceira, a leitura intacta da mente provocada pela quinta faixa, o anseio vital da sétima, a comemoração desordenada da nona, a batida mística e eletrônica presente na décima primeira. Sendo assim, iniciamos a primeira parte desse “PESADELO”. O que desejamos ao deitar? Queremos descansar. E ao descansar o que queremos? Queremos dormir. E ao dormir será que é possível sonhar? E ao sonhar, será que vamos acordar? E ao acordar, será que realmente vamos despertar? Diante desse desafio onírico, Fredé CF apresenta logo abaixo 6 motivos para você ultrapassar as barreiras do seu subconsciente e despertar para a sua transcendência vital. Vamos lá?
Faixa 1 – O ESTRANHO MUNDO DE JURUPARI COM ZÉ DO CAIXÃO EM MEKHANTROPIA: O
despertar da consciência começa por aqui. Nesta primeira faixa, Fredé CF une
por meio de uma sonoridade peculiar aos rituais indígenas o mito de Jurupari,
que na mitologia indígena é conhecido como o demônio dos sonhos com um trecho
presente no filme “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, de 1968, narrado pelo
próprio cineasta José Mojica Marins. Um monólogo proposto por uma citação
baseada em fundamentações existencialistas arrebatadoras, que desnudam as
profundezas da essência humana. Uau!!
Faixa 3 – SWEET DARKNESS: Alucinação poética! A letra desta
faixa foi composta durante um momento de dor e introspecção vivenciado por
Fredé CF em decorrência da contaminação pela Covid-19. A faixa toda em inglês
tem como principal objetivo traduzir as dores, angústias e medos. Repressões
sombrias. Esgotamento mental. Nomofobias. Apatia psíquica. Uma sequência
melancólica, porém, elegantemente harmoniosa sobre a exposição de nossa
vulnerabilidade e fragilidade emocional.
FAIXA 5 – TELA MENTAL PARTICULAR: As percepções cognitivas ocultas estão
presente na terceira faixa do EP, que conta com a participação mais do que
especial de Guilherme Tell, guitarrista da banda Cão Breu que brilhantemente dá
o ar da sua graça na sonoridade dessa faixa que começa com um misto de
instrumentos. Ouço acordes de um violão, surgem barulhos que se assemelham ao
barulho do vento. Me recolho profundamente diante da diversidade dos meus pensamentos.
“Tela Mental Particular” vem de encontro com o instigante mistério do desvendar
da consciência. O cérebro humano como ciência a ser explorada. Tão complexo que
não permite ser transplantado. Tampouco habitado por outrem. Apenas explorado
pelo que sigilosamente permeia a mente.
FAIXA 7- A VERSÃO MAIS JOVEM QUE SEREI: As expectativas oníricas e
vitais são mencionadas aqui. Eis que chegamos na minha faixa preferida. A
necessidade de descobrir e redescobrir o que a vida tem a nos oferecer juntamente
com a transmutação diária de todos nós. Abrir as portas para o desconhecido. A
ânsia por viver! Me impressionei com a alternância sonora de ritmos aqui
proposta pela genialidade musical de Fredé CF. Os acordes de um violão
ritmado que vão de encontro com a 9° sinfonia de Beethoven definitivamente me
deixou boquiaberta com essa bela surpresa com status de Grand Finale!
Faixa 9 - UM BRINDE AO CAOS: A mistura de elementos musicais presentes
no início da faixa com sintetizadores, violão e outras mixagens me deixaram
hipnotizadas. A faixa conta com a participação do DJ , arquiteto, pesquisador,
designer e musicista Maurício Mota, que por meio de suas intervenções sonoras,
juntamente com Fredé CF, conseguiram elaborar um sensível questionário de
perguntas que reúnem elementos da natureza, sentimentos, emoções, um misto de
situações que passamos o tempo todo incessantemente procurando por essas
respostas em meio às nossas indagações cotidianas. A morte. A vida. As
relações. As sensações. As conexões. A loucura desordenada de tudo que
observamos, vivemos e sentimos. Um brinde ao caos e a essa maravilha musical!!
FAIXA 11 - ELETROCHOCK! (MÚSICA INCIDENTAL: KALI GAYATRI): A sua cura
energética está aqui. Batidas eletrônicas, samplers, O mantra indiano aqui
aparece com o propósito de romper o ego. Freneticamente ritmado, o mantra emana
a energia cósmica que deverá sempre dar espaço ao novo. Que vibra a cada verso e
ativa uma memória afetiva onde, com “Black Dog”, voltamos ao túnel do tempo com
o Uivo pioneiro e delirante do Cão Breu que finaliza de forma apoteótica esse
álbum.
IMPRESSÕES SOBRE
A OBRA "PESADELO" (VOL. 2 - “INCUBUS”)
Por Raquel
Alves de Freitas Nunes*
(resenha feita
no dia 31/10/2022, Dia Nacional da Poesia)
Clique aqui para ouvir ao EP "Incubus" |
Chegamos
ao segundo ato desse pesadelo, não é mesmo? Cada um dos álbuns lançados por Fredé
CF me traz alguma reflexão, me toca, me emociona de forma diferente através de
cada linha, cada estrofe e cada verso, aliado à sua sensibilidade poética que é
algo que me encanta. INCUBUS além de me proporcionar esse bombardeio de
emoções, chega com tudo isso e um “plus” a mais. Ao fazer a resenha
identifiquei coincidências impressionantes que se tornaram acrônimos numéricos,
sonhos reais, enfim...uma impressionante mensagem do universo que não aconteceu
com os outros oito álbuns anteriores. Algo surreal. Mágico. Falando em magia e
coisas bonitas hoje é o dia da poesia e meu pensamento remete a um tempo
distante, para ser mais específica, volto em maio de 2021, na poesia do café,
escrita e publicada nas redes por Fredé CF bem próximo do lançamento do EP “Ecos
Oníricos”. De todas, é a minha preferida.
Sem
mais delongas, vamos à resenha?
PARTE
2 - INCUBUS
Clique aqui para ouvir ao EP "Incubus" |
A
busca por respostas para esses devaneios sombrios ou cheios de luz é o que
iremos iniciar nessa resenha. O pesadelo foi tão grande que teve que ser
dividido em dois episódios musicais, com o lançamento de duas obras com a
finalidade de despertar a consciência e promover o autoconhecimento. Sendo
assim, exponho o que achei mais relevante em cada poesia sonora deste EP:
Na
faixa 2 temos o luto em prol do ativismo ambiental, na faixa 4 temos a
elucidação dos sonhos, a dor emocional ocasionada pela faixa 6, às exigências
impostas por nosso cotidiano tão presente na faixa 8, a elucidação poética
trazida pela faixa 10 e o renascimento vital proporcionado pela faixa 12. O
álbum é repleto de emoções do início ao fim. Detalhe que em INCUBUS as faixas
são PARES, já em SUCCUBUS elas são ÍMPARES. O EP é muito voltado para a
autopercepção e a elucidação de sentimentos. E é nessa vibe comemorativa a esse
dia tão especial que Fredé CF nos convida a brindar essa data com 6
emocionantes doses de poesia logo abaixo:
FAIXA
2 – SANGUE DERRAMADO: A tristeza poética
começa aqui. Na faixa 2 desse álbum, Fredé CF homenageia de forma profunda e
tocante dois grandes símbolos da luta pelo ativismo ambiental no Brasil: O
indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips, que foram brutalmente
assassinados em junho deste ano. O sangue derramado aqui escorre no decorrer da
faixa e ecoa de forma revoltante em meio ao descaso governamental que sucumbe a
sua responsabilidade quanto a proteção às minorias e as causas ambientais. A
canção indígena entoada por Bruno, vai ao encontro do silêncio do povo da
floresta que ficaram órfãos e desprotegidos de sua grande luta em prol da
proteção aos povos indígenas. Emoção literalmente à flor da pele.
FAIXA 4 – PISADEIRA: O eu lírico poético começa por aqui. O violão de Fredé CF inicia a faixa com acordes frenéticos que se desenvolve em quase toda a faixa e ao chegar ao seu final alternando para uma esplêndida sonoridade de um compasso mais lento. Em momento algum destoa do pesadelo real que se intensifica diante dos desejos, da esperança, das evidências, de tudo que é permitido diante do que se pode sonhar. Quando se acorda ao invés de realizar o sonho, temos um pesadelo, onde somos atraídos por toda força criativa e enigmática das frases: MORRI NESSA SEXTA-FEIRA/SERÁ QUE TRANQUEI BEM O PORTÃO? Indagações como essas adentram o nosso inconsciente e finaliza a canção acompanhado por um beat box muito bem executado por Fredé CF e assim, vamos tentando decifrar os mistérios desse eu-lírico arrebatador.
FAIXA 6 -NADANDO NO SAL COM SAPOS: A melancolia poética se manifesta aqui. A introdução dessa faixa traz para mim um cenário cósmico. É como se estivesse orbitando pelo espaço, pelas galáxias, por meio de satélites e planetas. E nessa viagem imaginária, ou melhor, interplanetária, Fredé CF busca respostas para seu desabafo tão agoniante. Com uma voz icônica que remete ao horror e ao terror, a narrativa musical se desenvolve como uma súplica mediante a vontade de se libertar de suas angústias, das suas dores e seus conflitos emocionais. A loucura digital cotidiana que tanto seduz e impressiona, também contribui para esse panorama tão conflitante. Desânimo. Fúria. Desesperança. “Nadando no Sal com Sapos” é o relato desesperado da dor emocional que sufoca, aprisiona e atormenta.
FAIXA 8 - ESCRAVO DE AGRADO: A fúria poética se manifesta por aqui. Nesta faixa Fredé CF relata as exigências das nossas demandas de cada dia, seja elas no trabalho, no meio acadêmico ou em outros momentos da nossa vida onde temos que utilizar a palavra disposição para lidar com tantos compromissos. O violão ecoa em um mesmo ritmo, como se as cordas fizessem parte dessa rotina diária do agrado sem fim. A imposição de lutar e vencer em prol dos sonhos alheios. Ser comandado e obedecer aos comandos sem reclamar, independente de quaisquer circunstâncias, sejam elas psíquicas ou físicas. Esgotamento. A busca por resultados que resulta na vaidade que irá inflar o ego de alguém. Pressão. A necessidade infinita de agradar independente de qual artifício será utilizado. O indivíduo como agente principal na máquina da produtividade. Do status. A ambição onde nunca se pode dizer não. A escravidão em tempos modernos. “Escravo de Agrado” é a expressão visceral em prol de um olhar mais humanizado para as exigências sociais.
FAIXA 10 – O ESTRANHO MUNDO DA POESIA (DIÁRIOS DE QUARENTENA): As descobertas poéticas começam aqui. E no dia da poesia o que temos aqui? Um relato que foge das alucinações poéticas, como forma de entendimento de todo o desenvolvimento artístico que envolve o estranho não, mas o expressivo, maravilhoso e encantador mundo das poesias de Fredé CF. Pareidolias à parte, os mistérios da poesia são desvendados aqui por meio do significado do ato poético como uma forma de ressignificar as emoções. Além disso, traz todo o contexto artístico que envolvem estas descrições através de situações que também podem sem surrealistas e trazem à tona, a elucidação desse mundo dos delírios poéticos. Entender melhor como é composto esse processo criativo, fez de “O estranho mundo da poesia” a minha preferida do álbum.
FAIXA
12 - DESPERTAR EM MEKHANTROPIA: O despertar poético começa aqui. O EP que
começou tão triste após a tragédia relatada em “Sangue Derramado”, se encerra
de maneira entusiasmada com o despertar para a esperança. A certeza de que
querer viver é desfrutar de tudo que a vida puder nos proporcionar. Novas
experiências é saber que a vida renasce a cada dia. “Despertar em MekHanTropia”
é desabrochar para as possibilidades. É de dentro para fora. É a cura da alma,
da mente e das dores. É o grito de superação mediante a intensidade fugaz de
viver cada dia como se fosse o último.
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