Ouça aqui o EP: https://fredecf.bandcamp.com/album/odoy |
"odoyá minha pachaqueer! ainda é possível a poesia por estas terras invadidas, queimadas, tornadas pasto e deserto de soja? como poetizar neste intrapocalipse MekHanTrópico? odoyá minha pachaqueer! sim! como outra MPB, a música pós-humana de bóson! em tempos onde qualquer pessoa pode ser artista sem sensibilidade artística alguma, fredé atribui massa às nossas sensibilidades elementares. adensa-nos. em meio à degenerescência quântica de MHT, um grito-cântico entre baladas de viola elétrica, como um ciber_bluesman numa encruzilhada prestes a enganar o diabo na venda de sua alma artificial. de passos lentos, com pés múltiplos de um dançarino heptápode que gira e deixa girar como um sufi transhumano, arrastando e desenhando pontos de gira de um futuro cíclico. em seguida, um adeus alegre. celebrante violeiro em manifesto. relembrar o que está por vir, é imperioso para planejar tudo aquilo a que despedimos. mais um giro. entorpecido. embriagado. língua sem tempo. gira-te. torna-te coral de si mesmo! desdobra-te tuas vozes! distorça tua viola. distorça sua atmosfera sonora. distorça a quem tu versas. versão antiMHT. segure tua força pelos dentes. primavera-te! – assim ouvi Odoyá, novo álbum de Fredé CF." (Amante da Heresia, a.k.a. Dr. Leo Pimentel Souto)
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"Odoyá" foi composto, gravado, mixado, finalizado e produzido pelo smartphone por Fredé CF em Goiânia – Goiás - Brasil entre junho e setembro de 2024.
Fredé CF: letras, vozes, músicas (violão, contrabaixo, sintetizadores, samplers, IAs, silêncios e ruídos), imagens, capa e narrativas transmidiáticas.
Grupo de Pesquisa Cria_Ciber (UFG)
F.Oak Transmedia 2024.
Ouça em estéreo.
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Mini-Conto Anti-MekHanTrópico: "A Última Onda" (por Fredé CF, 2024)
Ouça aqui o EP: https://fredecf.bandcamp.com/album/odoy |
I. O Chamado do Horizonte
Aila estava sentada na beira do mar, seus pés descalços tocando a areia fina que ainda guardava o calor do sol. O céu, tingido de tons dourados e lilases, refletia no oceano uma paleta de cores que parecia flutuar entre o sonho e a realidade. À sua frente, o oceano, outrora dominado por correntes de plástico e escombros, agora pulsava com uma vida renovada, onde pequenas ilhas de vegetação surgiam como oásis verdes em meio ao azul profundo.
Ao seu lado, Dr. Fritz contemplava o horizonte com um olhar sereno. Ele não era mais o homem atormentado que Aila conhecera em um passado distante, quando ambos estavam presos em mundos separados, regidos pela lógica fria e seca da MekHanTropia. Agora, ele também carregava a leveza de quem havia encontrado algo além da escuridão. Algo em que acreditar.
— O que você vê, Aila? — perguntou Fritz, quebrando o silêncio que os envolvia.
Ela sorriu, sentindo a brisa fresca tocar seu rosto.
— Eu vejo um futuro que parecia impossível se tornar presente. Vejo um mundo onde as cicatrizes da nossa história ainda são visíveis, mas onde também brota algo novo, algo que não conseguimos destruir. Um mundo vivo.
II. O Renascimento dos Sonhos
Meses atrás, eles haviam realizado juntos uma última missão. Armados não com armas, mas com o poder dos sonhos, usaram o baralho QR codificado que Aila havia encontrado nas ruínas tecnológicas para reprogramar a simulação que mantinha suas realidades presas de forma alheia à Realidade Vegetal.
Ao decifrar os códigos, conseguiram liberar não só a si mesmos, mas também a consciência coletiva que havia sido suprimida por séculos pelo binarismo cortante e opressor.
O resultado foi uma onda de transformação global. As barreiras entre os mundos se dissolveram, e a simulação da MekHanTropia começou a se fragmentar, incapaz de sustentar sua própria artificialidade reducionista da realidade aos lucros inconsequentes.
Os oceanos plásticos, que antes dominavam o planeta, começaram a ser purificados por forças naturais e tecnológicas que foram programadas para a harmonia, o equilíbrio, a integração do humano com sua essência natural. Máquinas e humanos, outrora em conflito, agora colaboravam em projetos de regeneração global.
Durante o processo, Aila e Fritz encontraram forças ocultas que pareciam proteger de alguma forma essa transformação. Nas noites mais escuras, ouviram cânticos vindos das profundezas surdas do oceano, entoados pelas Iaras, entidades transdimensionais que se uniram à causa, ajudando a guiar as correntes marinhas para longe do plástico.
Nos campos devastados, encontraram a energia do espírito do Curupira, que, com seus pés virados, guiava os ventos e as chuvas para restaurar as florestas e proteger a vida que ali tentava florescer novamente. Sob sua vigília, as plantas cresciam com um vigor renovado, e os animais voltavam a habitar os lugares de onde haviam fugido.
Fritz, que sempre se considerara um cético, testemunhou as mudanças com um misto de espanto e admiração. Ele passou a acreditar que os sonhos não eram meros devaneios, mas sim janelas para possibilidades que ainda não compreendemos completamente. Rituais mágickos de presença para além dos tempos e espaços. Fenômenos de reconexão ancestral com a unicidade que habita em cada ser cósmico.
III. A Nova Trama
Enquanto Aila e Fritz caminhavam pela praia, começaram a perceber algo no horizonte. Uma figura solitária se aproximava, seus passos ritmados pela maré que recuava suavemente. Era uma jovem mulher, vestida com uma túnica vermelha feita de fibras vegetais entrelaçadas com fragmentos de tecnologia. Na medida que se aproximava, o brilho de sua aura aumentava. Fritz maravilhado com aquela experiência sensorial, perguntou para Aila se o que via era real. Aila sorriu e brincou perguntando à qual realidade ele se referia, dando boas-vindas à Realidade Vegetal, por tanto tempo incompreendida e reprimida.
O nome da mulher era Camila, e ela carregava consigo a missão de restaurar os oceanos.
— Vocês devem ser Aila e Fritz, os tecelões de sonhos — disse Camila, com um sorriso acolhedor — Ouvi histórias incríveis sobre vocês. Dizem que libertaram mentes aprisionadas e que ajudaram a tornar este novo começo possível, essa intersecção dimensional.
Aila assentiu.
— Mas não fizemos isso sozinhos. Foi pela vontade e ação de muitos, de todos aqueles que ainda acreditavam que havia algo de valor a ser resgatado. Muitos que até não estão mais entre nós, apenas em memórias e energia.
Camila se sentou com eles na areia, e juntos começaram a discutir como poderiam continuar a tecer essa nova realidade. Decidiram que usariam o conhecimento acumulado até então para criar uma rede de comunidades ao redor do mundo, onde a tecnologia e a natureza coexistiriam em equilíbrio, onde o passado seria lembrado, mas não repetido, onde a experimentação e a colaboração seriam a base dessa construção.
Foi durante essas conversas que Camila revelou algo a Aila e Fritz. Ela possuía um amuleto, um fragmento da Pedra da Lua que, segundo as lendas, havia sido concedido a ela por uma antiga feiticeira que uma vez foi temida, mas que agora havia se transformado em guardiã dos sonhos perdidos. A Pedra da Lua tinha o poder de revelar o caminho para os lugares ocultos da Terra, onde a energia vital era mais forte.
Com o amuleto em mãos, Aila e Fritz começaram a visitar esses lugares sagrados guiados pelo poder do amuleto, e ali encontraram os vestígios de civilizações antigas, protegidos por seres mágicos que haviam mantido, por meio de ilusões e simulações de realidade, os segredos longe dos olhos curiosos e destruidores do contexto anterior.
IV. A Última Onda
Com o passar do tempo, Aila, Fritz e Camila viajaram por várias partes do planeta, espalhando sementes físicas e simbólicas que ajudaram a reconstruir o mundo. As cidades-fantasma se transformaram em centros vibrantes de cultura e sustentabilidade, onde a arte, a ciência e os sonhos se entrelaçavam.
Um dia, ao retornar à praia onde tudo havia começado, Aila e Fritz viram algo extraordinário: as águas, agora cristalinas, começaram a brilhar com uma luz interna, como se o oceano tivesse absorvido todas as cores do céu em uma dança sublime. Uma onda gigantesca, feita de pura energia, se ergueu no horizonte e avançou em direção à terra.
— Esta é a última onda — disse Fritz, com uma mescla de encantamento e espanto.
A onda se desfez em milhões de pequenas partículas de luz, que caíram sobre o planeta como uma chuva suave. Onde tocavam, traziam vida, renovavam a terra e despertavam sementes adormecidas.
Ao observar a onda, Aila sentiu uma presença. Era a Rainha do Mar, que emergiu com um sorriso sereno e se aproximou de Aila e Fritz, entregando-lhes uma concha dourada. Dentro da concha, havia um líquido prateado que, segundo a ela, poderia transformar qualquer dor ou sofrimento em sonhos de esperança, bastava olhar para si e para a criança interior que habitava o coração.
V. O Futuro Desperto
Depois que a última gota de luz tocou o solo, Aila e Fritz perceberam que algo havia mudado. O mundo ao redor deles, embora familiar, agora parecia mais vibrante, mais real. Eles se olharam, e sem precisar dizer uma palavra, souberam que haviam cumprido uma importante missão.
— O sonho agora é real — disse Aila, com lágrimas de alegria nos olhos. Não sonhamos mais sozinhos.
Fritz sorriu emocionado e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava exatamente onde deveria estar.
Enquanto o espectro de luz azul de Iemanjá retornava ao oceano, Aila e Fritz permaneceram ali, lado a lado, observando o nascer de um novo dia. No horizonte, o sol surgiu, trazendo consigo a promessa de um futuro que, desta vez, seria moldado não pelo medo, mas pela esperança e pelo poder transformador dos sonhos e das lendas que habitam as profundezas de suas raízes.
Olharam ao redor à procura de Camila, mas ela já não estava mais lá.
Fritz sussurrou:
— Odoyá Iemanjá! Salve suas forças!
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Anti-MekHanTropic Mini-Tale: "The Last Wave" (by Fredé CF, 2024)
Ouça aqui o EP: https://fredecf.bandcamp.com/album/odoy |
I. The Call of the Horizon
Aila was sitting on the edge of the sea, her bare feet touching the fine sand that still held the warmth of the sun. The sky, tinged with golden and lilac tones, reflected in the ocean a palette of colors that seemed to fluctuate between dream and reality. In front of him, the ocean, once dominated by plastic currents and rubble, now pulsated with renewed life, where small islands of vegetation appeared like green oases in the deep blue.
By his side, Dr. Fritz contemplated the horizon with a serene gaze. He was no longer the tormented man Aila had known in the distant past, when they were both trapped in separate worlds, ruled by the cold, dry logic of MekHanTropia. Now, he also carried the lightness of someone who had found something beyond the darkness. Something to believe in.
"What do you see, Aila?" Fritz asked, breaking the silence that enveloped them.
She smiled, feeling the cool breeze touch her face.
"I see a future that seemed impossible to become present, Fritz. I see a world where the scars of our history are still visible, but where something new is also sprouting, something that we cannot destroy. A living world.
II. The Rebirth of Dreams
Months ago, they had carried out one last mission together. Armed not with guns but with the power of dreams, they used the encoded QR deck that Aila had found in the technological ruins to reprogram the simulation that kept their realities locked in a way to the Vegetal Reality. By deciphering the codes, they were able to liberate not only themselves, but also the collective consciousness that had been suppressed for centuries by the cutting and oppressive binarism.
The result was a wave of global transformation. The barriers between the worlds dissolved, and the simulation of MekHanTropia began to fragment, unable to sustain its own reductionist artificiality of reality to inconsequential profits. The plastic oceans, which once dominated the planet, began to be purified by natural and technological forces that were programmed for harmony, balance, and the integration of the human being with its natural essence. Machines and humans, once in conflict, now collaborated on global regeneration projects.
During the process, Aila and Fritz encountered hidden forces that seemed to somehow protect this transformation. On the darkest nights, they heard chants coming from the dull depths of the ocean, sung by the Iaras, transdimensional entities that joined the cause, helping to guide the marine currents away from the plastic.
In the devastated fields, they found also the energy of the spirit of Curupira, who, with his feet turned, guided the winds and rains to restore the forests and protect the life that was trying to flourish there again. Under his watch, plants grew with renewed vigor, and animals returned to inhabit the places from which they had fled.
Fritz, who had always considered himself a skeptic, witnessed the changes with a mixture of astonishment and admiration. He came to believe that dreams were not mere daydreams, but rather windows into possibilities that we still do not fully understand. Magickal rituals of presence beyond times and spaces. Phenomena of ancestral reconnection with the oneness that dwells in each cosmic being.
III. The New Plot
As Aila and Fritz walked along the beach, they began to notice something on the horizon. A lone figure approached, his steps rhythmic by the gently receding tide. It was a young woman, dressed in a tunic made of plant fibers intertwined with fragments of technology. As he got closer, the brightness of his aura increased. Fritz, amazed by that sensory experience, asked Aila if what he saw was real. Aila smiled and joked by asking which reality he was referring to, welcoming the Vegetal Reality, so long misunderstood and repressed.
The woman's name was Camila, and she carried with her the mission of restoring the oceans.
"You must be Aila and Fritz, the weavers of dreams," Camila said, with a welcoming smile. They say that they have freed imprisoned minds and that they have helped to make this new beginning possible, this dimensional intersection.
Aila nodded.
"But we didn't do it alone. It was by the will and action of many, of all those who still believed that there was something of value to be rescued. Many who are no longer with us, only in memories and energy.
Camila sat with them on the sand, and together they began to discuss how they could continue to weave this new reality. They decided that they would use the knowledge accumulated so far to create a network of communities around the world, where technology and nature would coexist in balance, where the past would be remembered but not repeated, where experimentation and collaboration would be the basis of this construction.
It was during these conversations that Camila revealed something to Aila and Fritz. She possessed an amulet, a fragment of the Moonstone that, according to legends, had been bestowed upon her by an ancient sorceress who was once feared, but who had now turned into the guardian of lost dreams. The Moonstone had the power to reveal the way to the hidden places of the Earth, where the life energy was strongest.
With the amulet in hand, Aila and Fritz began to visit these sacred places guided by the power of the amulet, and there they found the vestiges of ancient civilizations, protected by magical beings who had kept, through illusions and simulations of reality, the secrets away from the curious and destructive eyes of the previous context.
IV. The Last Wave
Over time, Aila, Fritz and Camila traveled to various parts of the planet, spreading physical and symbolic seeds that helped rebuild the world. Ghost towns transformed into vibrant centers of culture and sustainability, where art, science, and dreams intertwined.
One day, upon returning to the beach where it had all begun, Aila and Fritz saw something extraordinary: the waters, now crystal clear, began to glow with an inner light, as if the ocean had absorbed all the colors of the sky in a sublime dance. A gigantic wave, made of pure energy, rose over the horizon and advanced towards the land.
"This is the last wave," Fritz said, with a mixture of delight and amazement.
The wave broke up into millions of tiny particles of light, which fell on the planet like a gentle rain. Where they touched, they brought life, renewed the earth and awakened dormant seeds.
As she watched the wave, Aila felt a presence. It was the Queen of the Sea, who emerged with a serene smile and approached Aila and Fritz, handing them a golden shell. Inside the shell, there was a silvery liquid that, according to her, could transform any pain or suffering into dreams of hope, just look at herself and the inner child that inhabited her heart.
V. The Awakened Future
After the last drop of light touched the ground, Aila and Fritz realized that something had changed. The world around them, though familiar, now seemed more vibrant, more real. They looked at each other, and without having to say a word, they knew that they had accomplished an important mission.
"The dream is now real," Aila said, tears of joy in her eyes. We no longer dream alone.
Fritz smiled emotionally and, for the first time in a long time, felt that he was exactly where he should be.
As Iemanjá's spectrum of blue light returned to the ocean, Aila and Fritz stood there, side by side, watching the dawn of a new day. On the horizon, the sun rose, bringing with it the promise of a future that, this time, would be shaped not by fear, but by hope and the transformative power of dreams and legends that inhabit the depths of its roots.
They looked around looking for Camila, but she was no longer there.
Fritz whispered: “Odoyá Iemanjá! Save your strength!”
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